O Quebra de Xangô, ocorrido no início do século passado, foi fruto de uma rixa política da época que resultou na pilhagem de objetos sagrados de terreiros afro-religiosos. A Coleção Perseverança, nomeada em homenagem ao Museu da Sociedade Perseverança, que foi fechado e teve seus objetos abrigados pelo Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas desde 1950, agora recebeu o reconhecimento merecido.
Após o tombamento provisório em julho deste ano pelo Iphan, o processo administrativo para o tombamento definitivo teve um desfecho positivo, graças ao trabalho conjunto de entidades como o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas da Universidade Federal de Alagoas, o Instituto do Negro de Alagoas e o Grupo de Trabalho formado especificamente para essa finalidade.
Segundo Danilo Marques, coordenador do Neabi, a Ufal teve um papel fundamental no processo, atuando não apenas como corpo técnico, mas também como facilitadora para que as peças sacras retornassem ao povo de terreiro de Alagoas. Com isso, a Coleção Perseverança deixa de ser apenas uma lembrança de um crime histórico e se torna um legado de luta e resistência contra o racismo religioso.
O crime ocorrido na madrugada de 2 de fevereiro de 1912, durante as festividades de Oxum, marcou um triste capítulo na história dos terreiros de Alagoas. O Quebra de Xangô não apenas resultou no roubo de peças sagradas, mas também na morte de importantes líderes religiosos, como Tia Marcelina, que se tornou um ícone da luta negra na região.
Com o tombamento definitivo da Coleção Perseverança, a memória e tradição afro-religiosa de Alagoas são preservadas e celebradas, em um importante passo rumo à valorização da diversidade cultural e ao combate ao racismo religioso.