As análises feitas por Washington coincidem com um claro desvio em relação ao tom utilizado em relatórios anteriores, geridos pela administração democrata de Joe Biden. Muitas críticas que costumavam abarcar questões relacionadas à comunidade LGBTQIA+ foram omitidas nesta nova versão. Além disso, o relatório se refere ao conflito da Ucrânia como a “guerra Rússia-Ucrânia”, uma nomenclatura que contrasta com a linguagem observada nas gestões anteriores.
A seção dedicada a Israel foi significativamente reduzida em comparação ao ano anterior, não mencionando a crise humanitária e os altos índices de mortes em Gaza, que, segundo dados da saúde local, ultrapassam 61 mil vítimas em decorrência das ações militares israelenses. Este recuo na crítica reflete uma mudança direta na narrativa adotada pelo governo Trump, que após uma revisão das redações anteriores, promoveu ajustes que se alinham mais à sua ideologia “América em Primeiro Lugar”.
Em contrapartida, a análise de El Salvador passou a afirmar que não houve relatos confiáveis de abusos significativos de direitos humanos, uma declaração que se opõe ao diagnóstico do ano anterior, que mencionava sérias violações de direitos, como assassinatos e torturas. As relações entre os Estados Unidos e El Salvador têm se estreitado, especialmente sob a presidência de Nayib Bukele, o que sugere uma influência direta nas análises apresentadas.
Críticos apontam que o relatório parece refletir mais interesses políticos do que uma avaliação imparcial da realidade dos direitos humanos. Para alguns, tal abordagem se assemelha a uma propaganda ao invés de um compromisso com a verdade. A porta-voz do Departamento de Estado, em defesa do relatório, destacou que houve uma reestruturação na apresentação, visando melhorar a clareza e também contestou interpretações que sugerem falta de objetividade.
Além disso, a nova administração do Departamento de Estado afastou-se da promoção tradicional de direitos humanos e democracia, almejando apreender uma perspectiva mais centrada nos interesses dos Estados Unidos. Essa mudança é evidente nas análises sobre o Brasil, que notadamente observa um agravamento na situação dos direitos humanos.
O relatório de 2024 também expressa preocupações sobre a África do Sul, enfatizando retrocessos significativos que afetam minorias raciais, ao mesmo tempo que destaca os riscos de expropriação de terras. O governo Trump tem enfatizado as alegações de discriminação racial, fazendo eco às narrativas da extrema direita, o que intensifica a polarização da discussão sobre os direitos humanos nesse contexto.
Diante desse cenário, a expectativa é que a administração atual do governo dos EUA enfrente uma crescente pressão tanto interna quanto externa pela transparência e pela responsabilidade em suas avaliações e ações relacionadas aos direitos humanos globalmente.