Trump classifica cartéis de drogas como terroristas: especialistas alertam para riscos de intervenção militar na América Latina e ineficácia das políticas antidrogas.

No último dia 20 de janeiro de 2025, no início de seu mandato, o presidente Donald Trump tomou uma decisão polêmica ao assinar um decreto que classifica os cartéis de narcotráfico como organizações terroristas. Essa ação, segundo Trump, visa proteger os Estados Unidos de “ameaças e invasões”, mas também levanta preocupações sobre a possibilidade de uma intervenção militar americana em países da América Latina, especialmente o México, que há muito é um alvo do discurso intervencionista republicano.

Especialistas em relações internacionais analisam as implicações dessa medida e seu impacto nas dinâmicas de poder na região. Priscila Villela, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sugere que essa manobra não apenas reflete um desejo de Trump de combater o crime organizado no México, mas também procura integrar a luta contra o narcotráfico ao aparato militar dos EUA, já estabelecido para a guerra ao terror. Segundo a especialista, essa abordagem é alarmante para a América Latina, pois pode intensificar a presença militar americana e gerar um aumento da violência, especialmente estatal, no México.

Além disso, Villela destaca que a adoção de tal decreto pode beneficiar a indústria bélica dos EUA, que viu uma diminuição em suas operações internacionais após os conflitos no Oriente Médio. A nova estratégia pode ser vista como uma oportunidade para expandir o complexo industrial militar americano em um novo cenário de intervenção.

Por outro lado, Gisele Ricobom, docente de direito internacional na UFRJ, alerta que essa política reflete uma tentativa de Trump de identificar ameaças aos Estados Unidos como justificativa para medidas autoritárias que fragilizam a democracia, especialmente em contextos vulneráveis. Ricobom argumenta que a abordagem de Trump em relação ao narcotráfico não mostra um compromisso genuíno para resolver o problema das drogas, mas sim reforça uma retórica que pode levar ao aumento do encarceramento e à intensificação da repressão sem resolver as raízes do problema.

As análises ressaltam que enquanto a demanda por drogas nos EUA continuar alta, com o país sendo um dos maiores consumidores de cocaína e heroína, os cartéis se ajustam para atender a essa necessidade, independentemente das políticas coercitivas implementadas. Assim, muitos consideram que o decreto de Trump pode não trazer os resultados esperados e continuar o ciclo de violência e ineficácia das políticas antidrogas. No cenário brasileiro, há receios de que essas políticas interventivas giradas em torno do narcotráfico possam influenciar o debate sobre segurança pública no país, especialmente entre aqueles que apoiam uma abordagem punitivista.

Diante desse panorama, muitos se perguntam: será essa nova estratégia realmente um avanço no combate ao narcotráfico ou apenas mais um capítulo em uma longa história de tentativas frustradas de controle?

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