Este assassinato não representa um caso isolado, mas sim um ponto culminante em uma transformação crescente que coloca a Bolívia como um epicentro no tráfico internacional de drogas. Nos últimos anos, o país deixou de ser apenas um produtor de cocaína, emergindo como uma peça fundamental em uma vasta rede de narcotráfico que conecta a América do Sul à Europa. Essa evolução se deu em grande parte sob a influência de facções da máfia dos Bálcãs, em especial a trama orquestrada por Sebastian Marset, um dos traficantes mais procurados do mundo.
Marset não é apenas um nome; sua trajetória criminal se entrelaça com o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma facção que se originou nas prisões brasileiras, mas que, ao longo do tempo, gravitou para fora de suas fronteiras. O vínculo entre Marset e o PCC começou de forma inusitada nas celas da prisão Libertad, no Uruguai, onde o jovem traficante se destacou e expandiu suas conexões, ascendendo na hierarquia criminosa em um dos presídios mais violentos da região.
Durante o período que passou naquela prisão, de 2013 a 2018, Marset não apenas sobreviveu, mas prosperou. Ele se tornou familiarizado com os métodos de operação do PCC, que, por sua vez, se transformou em uma organização transnacional. Em seu retorno à liberdade em 2018, Marset tinha um novo perfil: deixara de ser apenas um traficante local e se tornara um operador internacional, pronto para explorar as vastas oportunidades que a Bolívia oferecia.
Rapidamente, Santa Cruz de la Sierra se consolidou como o centro de suas operações. O crescimento da economia local e a proximidade com áreas de produção de coca permitiram a criação de uma rede complexa que ia desde a compra da pasta base até a distribuição final nos mercados europeus. Marset montou empresas de fachada no agronegócio e imobiliário, que serviam tanto para lavar dinheiro quanto para encobrir suas atividades ilícitas.
As táticas operacionais de Marset e sua associação com o PCC introduziram uma nova era no tráfico de drogas na Bolívia. A cocaína era transportada em pequenas aeronaves para o Paraguai, onde era disfarçada em cargas legítimas, antes de ser embarcada para a Europa. Com um volume de operações que chegou a 16 toneladas, os lucros desse esquema chegam a centenas de milhões de dólares, evidenciando a magnitude do problema.
Essas dinâmicas revelam não apenas o horror dos assassinatos, mas também um emaranhado de alianças e estratégias que alimentam o comércio de drogas. A situação na Bolívia exige uma atenção urgente, pois o narcotráfico não é apenas um ato criminoso, mas um fenômeno que abala as estruturas sociais, políticas e econômicas do país e além.