Triângulo do Lítio: Nova Aliança com EUA Pode Repetir Pacto Colonial no Sul da América

A recente vitória de José Antonio Kast nas eleições chilenas marcou uma nova fase de alinhamento político entre os países do Triângulo do Lítio: Argentina, Bolívia e Chile. Juntos, esses países concentram cerca de 50% das reservas globais de lítio, um mineral vital para a produção de baterias de veículos elétricos e cada vez mais considerado uma nova forma de “ouro branco”. Apesar de o Brasil não fazer parte desse grupo, detém um papel importante como único produtor mundial do chamado “lítio verde”, extraído de maneira sustentável no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

Esse “lítio verde” é destacado por seu perfil ambientalmente amigável, que não gera rejeitos nocivos, o que potencializa seu uso em baterias. A forma dura do mineral encontrado nas minas brasileiras também torna sua extração mais econômica em comparação a outros países. Contudo, o alinhamento dos países andinos com os Estados Unidos pode trazer implicações complexas.

A especialista em direito climático, Luciana Bauer, alerta que a estreita relação com os EUA pode oferecer vantagens como acesso a capital mais barato e transferência de tecnologia. No entanto, isso também pode levar a um “colonialismo moderno”, onde o Sul Global se torna fornecedor de matérias-primas enquanto o Norte retém a maior parte dos benefícios tecnológicos. Essa dinâmica pode criar um ciclo vicioso, em que os países da região acabariam por vender insumos básicos e depender de importações de produtos de maior valor agregado, como baterias e veículos elétricos.

Bauer destaca a possibilidade de que acordos com os EUA venham acompanhados de condições que limitem a autonomia regulatória dos países, como cláusulas de estabilidade e licenciamento rápido. Além disso, a questão do uso da água é critica. A extração de lítio nos salares andinos já enfrenta desafios hídricos, e a militarização das fronteiras poderia se intensificar em nome da segurança nacional.

Ainda assim, as oportunidades de parceria, como o investimento da montadora BYD em um complexo industrial no Brasil, podem representar um caminho para um desenvolvimento mais sustentável. Essa montadora já busca alternativas às tradicionais baterias de lítio, como as de íons de sódio, reconhecendo que a inovação tecnológica pode ser uma resposta aos desafios ambientais e sociais que a exploração do lítio impõe.

Sendo assim, o futuro da indústria do lítio na América do Sul dependerá de um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e justiça social, como também da capacidade dos países da região de negociar com autonomia e visão de longo prazo.

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