Tráfico e Trabalho: Pesquisa Revela Que 36% dos Envolvidos no Crime Também Exercem Atividades Lícitas no Brasil

Uma pesquisa abrangente realizada pelo Data Favela, envolvendo 3.954 indivíduos associados ao tráfico de drogas em 23 estados do Brasil, revelou aspectos inquietantes da realidade desses indivíduos. O levantamento mostrou que, surpreendentemente, um em cada três entrevistados também se dedica a alguma atividade econômica lícita, além de suas atividades ilícitas.

Dos respondentes, 36% afirmaram conciliar o tráfico com ocupações formais ou informais. Dentre esses, 42% realizam trabalhos temporários ou bicos, 24% se identificam como empreendedores, 16% possuem empregos formais e 14% ajudam em negócios de familiares ou amigos. Essa dicotomia ilustra não apenas a complexidade do envolvimento com o tráfico, mas também a luta pela sobrevivência em um ambiente econômico desafiador.

Quando questionados sobre suas razões para ingressar no crime, quase metade dos participantes (49%) mencionou a falta de recursos financeiros como principal motivação. Além disso, 13% relataram ter enfrentado problemas relacionados à violência ou dependência química, enquanto 11% compartilharam a experiência de ter vivido nas ruas ou em abrigos, condições que limitaram suas oportunidades de trabalho formal.

Quando indagados se considerariam deixar a atividade criminosa, 58% dos indivíduos manifestaram desejo de abandonar o tráfico. Dentre esses, as aspirações mais citadas para a reintegração à sociedade incluíam abrir um negócio próprio (22%) e conseguir um emprego formal (20%). Outros mencionaram a busca por trabalhos com horários flexíveis (15%) e o desejo de constituir uma família (8%).

O estudo também revelou dados sobre a situação financeira dos entrevistados. Aproximadamente 28% vivem com uma renda mensal de até R$ 1.520, enquanto 35% ganham entre R$ 1.521 e R$ 3.040. Um número menor, porém significativo, de 17% tem rendimentos entre R$ 3.041 e R$ 7.600. Para contextualizar, em 2022, 68% da população brasileira recebia até dois salários mínimos, enquanto a pesquisa indicou que esse índice atualmente é de 63%.

Em termos demográficos, 24% dos participantes têm entre 22 e 26 anos, e apenas 2% possuem mais de 50 anos. No que diz respeito à escolaridade, o levantamento revelou que 42% dos indivíduos têm ensino fundamental incompleto ou não possuem instrução, um dado preocupante quando comparado à média nacional de 35,2%.

Essas informações não apenas refletem a dura realidade enfrentada por esse segmento da população, mas também ressaltam a necessidade urgente de políticas públicas que promovam inclusão e oportunidades reais de trabalho.

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