Em mais um movimento que aumenta a pressão sobre o governo Lula, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) decidiu adiar a entrega de seu parecer sobre o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A proposta, considerada prioritária pelo Planalto, depende de aprovação ainda neste ano para entrar em vigor em 2026, ano eleitoral. O adiamento ocorre após o Congresso ter derrubado o aumento do IOF, medida que o governo esperava para recompor o caixa.
A decisão de Lira, relator da proposta, foi interpretada como parte de uma estratégia da aliança entre o centrão e bolsonaristas para enfraquecer politicamente Lula. Segundo aliados do presidente, o gesto acirra a disputa entre os poderes e torna o ambiente no Congresso ainda mais hostil ao Planalto. O projeto de isenção é uma das promessas de campanha de Lula, com impacto estimado em R$ 27 bilhões, e previa compensações via taxação de dividendos de super-ricos.
O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) afirmou que o objetivo da ofensiva não é abrir um processo de impeachment, mas sim forçar o governo a adotar medidas impopulares, como cortes em áreas sensíveis. “Eles querem que Lula corte na saúde e educação para chegar fragilizado em 2026”, afirmou. Segundo ele, o centrão age com hipocrisia ao criticar gastos sem abrir mão das próprias emendas parlamentares.
Boulos também defende que o governo leve a derrubada do decreto do IOF ao Supremo Tribunal Federal, argumentando que a medida do Congresso é inconstitucional. “A prerrogativa de alterar o IOF é do Executivo”, explicou. Para o deputado, o STF pode reverter a decisão e restabelecer o decreto original.
Apesar da tensão, Boulos afirma que o governo não deve romper totalmente o diálogo com o Legislativo. Para ele, é preciso enfrentar a disputa política com firmeza, mas também buscar acordos. “O enfrentamento tem que vir junto da demonstração de força, inclusive recorrendo ao Judiciário e mobilizando a sociedade para expor o jogo do centrão e da direita”, concluiu.