Tensão e solidão: a vida de um jornalista em meio à guerra entre Israel e Hamas

Cobrir uma guerra como esta é um desafio diário para qualquer jornalista. A pergunta constante de “de onde você é?” é feita com olhares desconfiados e ansiedade por parte daqueles que a fazem. Responder “Brasil” sempre traz um sorriso de alívio e o comentário de que o Brasil está ao lado de ambas as partes envolvidas, tanto israelenses quanto palestinos.

A guerra em curso é uma mobilização constante que afeta todos os aspectos da vida. Tudo é suspenso e o único assunto é o conflito. Nas ruas, as pessoas passam com olhares apreensivos e desconfiados de qualquer desconhecido ao seu redor.

Na semana passada, precisei pegar o elevador com uma caixa de livros. Uma senhora que estava comigo no elevador não conseguia tirar os olhos da caixa, tentando ler o que estava escrito. Eu a tranquilizei, dizendo que eram apenas livros. Todos estão vigilantes, com medo de que o vizinho possa ser um inimigo em potencial.

Ao tentar abordar pessoas para entrevistas, percebo que a primeira pergunta que me fazem é de que lado estou. Explicar a função do jornalista nessa situação é difícil, pois muitos são céticos e não acreditam que a nossa missão seja imparcial e objetiva. No entanto, continuamos nosso trabalho, mesmo sabendo que não precisamos que os outros acreditem em nós para que levemos adiante essa missão. É uma escolha pessoal.

Às vezes, a solidão desse trabalho me atinge. Quem poderia entender o que se passa na minha cabeça? Os meus colegas jornalistas também estão ocupados, apurando informações, realizando entrevistas, escrevendo histórias e transmitindo ao vivo. Tentamos trocar mensagens durante o dia para nos certificarmos de que todos estão bem. Torço para poder encontrá-los rapidamente na rua para dar um abraço.

Converso com amigos israelenses judeus e árabes, assim como palestinos. Recebo mensagens de brasileiros que estão em Gaza tentando encontrar abrigo seguro. Meu dia é preenchido pelo monitoramento das notícias de pessoas que desconheço e da vida das pessoas que já conhecia antes do início da guerra. Todos estão vivendo em constante tensão.

Há pouco tempo, enviei uma mensagem para um amigo que ainda não me respondeu. Não falo com ele desde o início do conflito e começo a me perguntar se está tudo bem. Vou tentar novamente amanhã. Ele provavelmente está ocupado cuidando da família e não teve tempo de me responder. Pelo menos é o que espero.

Quando acordo todos os dias, sou atingido por uma sensação de medo. Lembro onde estou e do que está acontecendo. Espero que boas notícias cheguem em breve, mas sei que tudo pode demorar. Por enquanto, minha missão é comunicar o que é mais importante até o final do dia.

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