Suriname Lança Programa de Divisão de Lucros do Petróleo, Atraindo Críticas de Oportunismo Político e Desconfiança Sobre Sustentabilidade

Recentemente, o presidente do Suriname, Chan Santokhi, revelou um programa inovador intitulado “Royaltes para Todos”, que visa distribuir parte dos lucros gerados pela exploração de petróleo nas costas do país diretamente aos cidadãos. Cada surinamês deverá receber anualmente cerca de US$ 700, montante que equivale a aproximadamente R$ 4,3 mil. Essa medida, anunciada em um momento em que Santokhi se encontra perto do fim de seu mandato, gerou uma série de questionamentos sobre suas motivações e impactos.

Analisando o contexto, especialistas como Iuri Cavlak, professor de teoria da história na Universidade Federal de São Paulo, veem a iniciativa como uma estratégia política potencialmente eleitoreira. Segundo Cavlak, a ideia de oferecer um valor direto à população, proveniente de recursos naturais como o petróleo, é uma novidade que foge dos programas tradicionais de transferência de renda, como o Bolsa Família no Brasil. Para ele, essa abordagem pode ser considerada uma tentativa de suavizar tensões sociais em um país que, apesar de sua independência dos Países Baixos em 1975, permanece economicamente vulnerável.

O Suriname possui um histórico delicado em relação à governança, frequentemente marcado por corrupção e ligações com atividades ilícitas, como o tráfico de drogas. As autoridades locais enfrentam a difícil tarefa de gerir uma economia que depende fortemente de setores vulneráveis, como garimpos e cassinos. A distribuição de royalties parece ser uma maneira de conquistar a confiança da população e prevenir agitações sociais.

Adicionalmente, o programa pode refletir uma urgência em capitalizar os recursos petrolíferos em um cenário onde a prospecção já vinha sendo discutida desde a década de 2010. Contudo, a exploração só deve efetivamente começar em 2028, sob a responsabilidade da empresa TotalEnergies. Esse atraso levanta questões sobre a viabilidade do programa e a continuidade dos benefícios prometidos, principalmente caso a administração de Santokhi não seja reeleita.

Dentro desse contexto, a falta de transparência e o desenvolvimento frágil da democracia no Suriname trazem à tona um dilema: até que ponto a distribuição imediata de recursos pode ser uma solução sustentada a longo prazo? O receio é que, em um país com instituições democráticas mais frágeis, a dependência dos recursos naturais possa acentuar desigualdades e enfraquecer a capacidade da sociedade de exigir uma governança responsável. Os desafios à frente incluem não apenas garantir que os recursos sejam distribuídos de maneira justa, mas também fortalecer as estruturas políticas e sociais que sustentem essa distribuição no futuro.

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