Netinho enfrentou dois grandes obstáculos que abalaram profundamente seu estado psicológico: a morte de seu pai, que era seu principal pilar de apoio, e a suspensão preventiva por doping após um resultado adverso. A combinação dessas dificuldades quase tirou Netinho da competição olímpica. “Meu pai era meu pilar. Depois que ele morreu, eu não tinha mais confiança em ninguém. Tentei com psicólogo e não tinha gostado, isso sempre martelava na minha cabeça, que não dava certo”, afirmou o atleta, revelando a profundidade de seu luto. “Ia para o treino e tomava um chute que nunca tomei na vida. Achava que não era para mim. Graças a Deus consegui trabalhar com o coach que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) conseguiu para mim, que veio me ajudando bastante.”
A virada na vida de Netinho ocorreu com a ajuda de Kleber Maffei, coach contratado pelo COB. O trabalho entre eles começou em janeiro, quando o taekwondista ainda estava sob a incerteza de sua participação em Paris-2024 e profundamente abalado psicologicamente. As sessões virtuais com Maffei focaram em transmitir tranquilidade e confiança, elementos cruciais para a recuperação de Netinho. “Meu objetivo inicial foi simplesmente me conectar com ele, ser empático com o momento e com os sentimentos que o envolvia naquela época, para que pudesse confiar em mim e assim criarmos uma conexão que seria fundamental para o sucesso do trabalho”, explicou o coach.
Embora não seja psicólogo, Maffei utilizou seu conhecimento como ex-atleta e coach para identificar pontos importantes na história de Netinho que pudessem ser trabalhados para sua reinvenção. “Como não sou psicólogo, não me atrevo a dar diagnósticos e muito menos querer tratar traumas. Como ex-atleta e um coach que tem como essência a educação, o que fiz foi me interessar profundamente sobre sua história e identificar os pontos que para ele são importantes e que poderiam trazer à tona como um importante significado para sua reinvenção”, destacou.
O esforço conjunto deu frutos. Mesmo após perder a luta de estreia e ficar oito horas esperando, Netinho acompanhou seu adversário chegar à final, o que lhe abriu a oportunidade de repescagem pelo bronze. Ele venceu as duas lutas subsequentes e conquistou a medalha sonhada, agradecendo a todos que o auxiliaram nesse retorno.
Além de Kleber Maffei, Henrique Precioso, chefe da equipe de Taekwondo em Paris, e Natalia Falavigna, primeira medalhista olímpica do Brasil no esporte, também foram fundamentais na trajetória de Netinho. “São pessoas que estavam comigo não só na glória, quando eu estava medalhando em Grand Prix, mas também quando caí na situação do doping. Estavam todos ali comigo, nunca desistiram de mim”, lembrou o atleta, emocionado. “É muito emocionante, e sou muito grato à CBTKD e ao pessoal que acreditou em mim desde pequenininho. Desde os meus 16 anos, estou com esse pessoal. Henrique é um irmão pra mim, e isso é muito importante.”
A história de Netinho é um exemplo inspirador de como a perseverança e o apoio emocional podem transformar adversidades em vitórias.