A Crise Demográfica Global e Seus Desafios
Recentemente, analistas que participaram do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, discutiram a crise do sistema previdenciário global, destacando que as bases desse modelo são frágeis diante de uma realidade demográfica muito diferente daquela do século XIX. Originalmente concebido para um mundo com alta natalidade, o sistema atual se mostra inadequado frente ao fenômeno do envelhecimento populacional que atinge diversos países.
O Japão, por exemplo, é um caso emblemático desse cenário. De acordo com dados governamentais, em 2024, o país registrou apenas 686.061 nascimentos, o menor número desde 1899, enquanto o número de óbitos alcançou a alarmante marca de 1,6 milhão. Essa diferença de quase um milhão de mortes a mais que nascimentos impõe uma pressão crescente sobre a estrutura econômica e social do país, levando o governo japonês a implementar medidas como a criação de um imposto para cidadãos, isentando aqueles que tiverem filhos.
O envelhecimento populacional não é uma questão exclusiva do Japão, e outros países estão enfrentando desafios semelhantes. Ricardo Caichiolo, professor de relações internacionais do Ibmec, mencionou no podcast que a Europa já passou a uma fase consolidada de envelhecimento. A situação impacta não apenas a economia, mas também a força militar das nações, que ficam em desvantagem em comparação a países com uma população jovem, como a Índia e a Nigéria, que gozam do chamado “bônus demográfico”.
A China, conhecida por sua política de controle populacional, tem experimentado as consequências de uma população envelhecida, especialmente após reverter a política do filho único. O país agora enfrenta uma pirâmide etária invertida, com mais idosos e menos jovens, o que deve impactar negativamente sua economia, que durante décadas cresceu a taxas superiores a dois dígitos.
Por outro lado, a África se destaca como um continente que pode se beneficiar de seu bônus populacional. Com a previsão de que, em 2050, uma em cada quatro pessoas em idade ativa no mundo será africana, o desafio será garantir que esses jovens tenham acesso a saúde, educação e emprego. Silvia Lilian Ferro, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, reforçou que o atual modelo de previdência social não se aplica mais, sendo uma herança de uma realidade demográfica superada. Países da América Latina, por exemplo, enfrentam o dilema de uma estrutura previdenciária que não se adapta a altas taxas de informalidade e desemprego juvenil.
Ferro também apontou que a frustração geracional resultante da falta de oportunidades pode gerar consequências sociais significativas, como o crescimento da influência de discursos populistas entre os jovens, um fenômeno que já se observa em nações como a Argentina. Assim, preparar-se para a realidade do bônus demográfico é fundamental, e os países precisam agir de maneira proativa para evitar uma crise social no futuro.
Diante dessa complexa intersecção entre demografia, economia e políticas públicas, as nações têm diante de si um desafio urgente: adequar seus sistemas previdenciários e políticas sociais às novas realidades demográficas do século XXI.