Servidores do Ibama Encerram Greve, Mas Criticam Acordo de Reajuste com Governo

Após 38 dias de paralisação, os servidores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) finalmente chegaram a um acordo com o Ministério da Gestão e Inovação (MGI). As assembleias, que serão realizadas até quinta-feira, 15, irão determinar oficialmente o término da greve. O acordo prevê um aumento salarial médio de 23% para servidores de nível médio e 21% para os de nível superior, a ser implementado até 2026.

No entanto, a Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do Plano Especial de Cargos do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama (Ascema) expressou descontentamento com a proposta. Em comunicado oficial, a Ascema considerou o acordo insuficiente, afirmando que ele está “muito distante da reestruturação almejada pela categoria.” Além disso, a associação criticou a postura do governo durante as negociações, qualificando-a como intransigente, e destacou que a aceitação do acordo foi feita “à contragosto” pelos servidores.

Entre os pontos mais criticados pelos servidores está o fato de que a proposta do governo não contempla a reestruturação da carreira, uma das principais reivindicações da greve. A categoria pretendia alcançar uma equiparação salarial e de progressão com a Agência Nacional de Águas (ANA), mas essa demanda foi deixada de lado no acordo firmado.

Durante as negociações, o secretário de Relações de Trabalho do MGI, José Lopez Feijóo, afirmou que a proposta oferecida aos servidores do Meio Ambiente era uma das mais “invejadas” por outras carreiras do serviço público. Ele reiterou que o governo havia atingido seu limite financeiro para negociação.

A relação entre Ascema e governo já se desenrolava há cerca de um ano, com as tensões aumentando significativamente desde janeiro, quando os servidores suspenderam todas as atividades de campo, culminando no início oficial da greve em 1º de julho. Dias após o início da paralisação, uma liminar judicial obrigou 100% dos servidores de áreas críticas, como o licenciamento ambiental, a retornarem ao trabalho. A ação foi movida pela Advocacia Geral da União (AGU), que considerou a greve abusiva.

A greve trouxe sérios impactos sobre o controle de atividades ilícitas. Segundo um levantamento da Ascema, entre janeiro e abril de 2023 foram aplicados 2.161 autos de infração, número que caiu para 389 no mesmo período deste ano, uma redução de 82%. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconheceu que a paralisação dos servidores influenciou no aumento dos índices de desmatamento na Amazônia, com alta de 33,2% nos alertas de desmatamento no mês de julho, conforme dados do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O desmatamento é um tema central para o governo federal, que na última Conferência das Partes da ONU (COP-28), em Dubai, reafirmou seu compromisso de zerar a derrubada de florestas até 2030. O Brasil, que sediará a COP-30 em Belém no próximo ano, precisa manter uma imagem robusta em questões ambientais.

Apesar do fim iminente da greve, os servidores afirmaram que a mobilização continuará. Em nota, destacaram a importância da COP-30 e mencionaram a elaboração de um calendário de ações futuras para continuar a luta por melhores condições de trabalho e reestruturação da carreira.

“Temos COP-30 em 2025 e muita luta pela frente”, finalizou a nota dos servidores.

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