Série “Tremembé” reacende interesse em livro proibido que revela vidas de detentos famosos e gera debate sobre censura e a proteção da imagem no sistema prisional.

A recente estreia da série “Tremembé” em uma popular plataforma de streaming pôs em evidência a obra controversa “Diário de Tremembé — O presídio dos famosos”, escrita pelo ex-prefeito e jornalista Acir Filló. Desde sua publicação, o livro se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, mesmo em meio ao embargo judicial que o impede de circular nas livrarias e bibliotecas desde 2019. A questão que persiste é: por que uma obra literária que aborda a vida dentro de um presídio continua banida do público?

“Diário de Tremembé” é um relato autobiográfico elaborado por Acir Filló durante seu cumprimento de pena na P2 de Tremembé, onde ficou preso por praticamente 20 anos devido a um esquema de corrupção. O texto oferece um vislumbre das interações do autor com notórios detentos, como Cristian Cravinhos e Roger Abdelmassih, revelando a vida nos bastidores do que Filló descreve como um “presídio dos famosos”.

O embargo do livro foi determinado pela juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, que argumentou que a publicação violava a privacidade dos detentos, além de incluir informações não verificadas. As palavras da magistrada foram contundentes ao qualificar o conteúdo como uma série de “fofocas” inconsistente, com apenas três dos mencionados concedendo autorização para a divulgação de suas histórias. Dois desses presos, por sua vez, alegaram que foram distorcidos e mal retratados.

Ao abordar o caso, o desembargador João Morenghi reforçou que a medida não constituiu censura, mas um mecanismo de proteção à imagem dos detentos sob a tutela do Estado. Esse argumento ressalta a complexidade da questão, que envolve direitos de imagem e liberdade de expressão.

A volta do interesse público pela obra se deu com a divulgação da série, gerando reações nas redes sociais de usuários desejosos de conhecer o livro proibido. O autor, por sua vez, afirma que sua obra foi censurada precisamente por tratar de figuras influentes, como Roger Abdelmassih, cuja imagem segue sendo protegida, mesmo atrás das grades. Filló defende que o sistema penal brasileiro oferece condições privilegiadas para esses criminosos notórios.

Em busca da liberação de seu trabalho, Acir Filló declarou que não desistirá da batalha judicial que o impede de ver seu livro nas ruas. Ele critica duramente a censura e compara a situação à uma prática de queima de livros, clamando por um retorno à liberdade de expressão em um país que se diz democrático. Apesar do embargo, ele reafirma sua convicção de que a história precisa ser contada e que os direitos à informação e à verdade devem prevalecer.

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