Mourão enfatizou a importância da agricultura gaúcha, que sustenta diversas cadeias produtivas e empregos. No entanto, ele apontou uma falha sistêmica no suporte aos produtores, que frequentemente se encontram à mercê de políticas de crédito rural insuficientes ou mal aplicadas. O senador fez um alerta sobre a vulnerabilidade do produtor, que é o elo mais frágil da cadeia produtiva. Para ele, a ineficiência dos mecanismos de crédito, aliada à falta de políticas anticíclicas eficazes, compromete a capacidade de o produtor rural se manter ativo e competitivo.
Durante o debate, Arlei Romeiro, presidente da Associação dos Produtores e Empresários Rurais (Aper), destacou a necessidade de revisar a forma como as políticas de crédito são conduzidas. Ele citou irregularidades por parte de instituições financeiras, que – segundo ele – têm levado ao colapso de mais de 30 famílias do setor. A mensagem clara era que, mesmo diante de alternativas legais, muitos se veem obrigados a abandonar a atividade rural por conta do endividamento.
O Banco Central também estava representado na audiência por Cláudio Filgueiras Pacheco Moreira, que contextualizou a gravidade do endividamento rural no estado, onde a situação é alarmante, representando quase 98% do impacto de uma Medida Provisória que busca a criação de linhas de crédito rural. Ele reafirmou a posição do Banco Central de que as instituições financeiras não devem reter a produção dos produtores rurais, mas sim atuar na recuperação de créditos de forma legal e adequada.
A necessidade de uma abordagem mais estrutural é evidente. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Irajá Lacerda, e o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos, concordaram que a situação é crítica. Campos citou mudanças climáticas como um dos principais fatores que exigem uma atenção governamental imediata e coordenada, especialmente em um momento em que 459 municípios do Rio Grande do Sul enfrentam crises significativas.
Apesar da atenção federal, muitos participantes da audiência consideraram as medidas disponíveis insuficientes. Antônio Carlos de Quadros Ferreira Neto, da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, chamou a atenção para a necessidade de uma legislação mais robusta que permita a securitização das dívidas rurais, possibilitando que os produtores transformem seus débitos em ativos financeiros.
O debate se tornou uma plataforma para a expressão de preocupações mais amplas sobre a saúde financeira da agricultura no Brasil. Raphael Barra, da Associação Brasileira de Defesa do Agronegócio, alertou para o que chamou de “endividamento endêmico”. Ele fez um apelo para que a sociedade e as instituições financeiras reconheçam o valor da produção rural, que muitas vezes é tratada apenas como um número em uma planilha, ignorando as complexidades e dificuldades enfrentadas pelos produtores no campo.
É evidente que o desafio do endividamento e das condições de crédito para os produtores rurais não é apenas uma questão financeira; é uma questão que afeta vidas, comunidades e a própria estrutura econômica do país. A busca por soluções eficazes e sustentáveis é mais urgente do que nunca.









