Segundo a autora indígena, a escrita é indispensável para resistir às dificuldades e se expressar de maneira impactante. #Brasil

No último sábado (27), durante a primeira edição do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu), a renomada escritora Márcia Wayna Kambeba lançou seu novo livro intitulado “De almas e águas kunhãs”. O evento contou com a presença da autora, que realizou uma palestra ao lado da também escritora e pesquisadora indígena Trudruá Dorrico, abordando a narrativa das ancestralidades.

A obra de Márcia Wayna Kambeba é uma coletânea de ensaios e poemas que trazem à tona temas como a resistência dos povos originários e o respeito à natureza na região amazônica. Para a autora, a escrita e a composição de suas músicas autorais são maneiras de expressar resistência, comunicar e valorizar a cultura indígena, além de transmitir sua visão de mundo.

A inspiração artística de Márcia veio principalmente de sua ancestralidade, sendo sua avó uma grande incentivadora de seus dons. Foi ela quem comprou sua primeira máquina de datilografia e a motivou a escrever. A autora começou a produzir seus primeiros poemas aos 14 anos, mas apenas após concluir o mestrado conseguiu publicar suas primeiras obras. Atualmente, Márcia já possui seis livros impressos e tem mais três previstos para serem lançados em setembro, voltados para o público infantil.

“A mulher indígena desempenha um papel fundamental em todas as relações estabelecidas, como líderes espirituais, na política e na proteção do meio ambiente e do território”, ressalta a escritora. Márcia é pesquisadora de geografia e pertence à etnia Omágua Kambeba. Nascida na Aldeia Belém de Solimões, no Amazonas, ela foi criada na cultura do povo Ticuna até os oito anos de idade.

Além disso, Márcia enfatiza que a literatura é uma forma de dar voz aos povos indígenas e combater as adversidades e violências enfrentadas por eles no Brasil. Segundo ela, sofrem violências culturais e territoriais, enquanto a destruição da natureza também afeta diretamente as aldeias indígenas. A escritora destaca que, atualmente, as mulheres indígenas têm conquistado mais espaço de fala como líderes, não com o intuito de se sobrepor aos homens, mas sim de ocupar seu lugar de protagonismo.

O amor pela literatura surgiu na vida de Márcia quando sua avó recitava os poemas que ela mesma escrevia. Sua avó era compositora da aldeia e Márcia, desde pequena, cantava para os turistas que visitavam seu povo. Aos nove anos, a autora se mudou para São Paulo de Olivença e depois para Tabatinga, onde cursou Geografia. Posteriormente, fez mestrado na mesma área e, encantada pela poesia, foi cursar doutorado em Letras em Belém.

O lançamento do livro de Márcia Wayna Kambeba no Festival Literário de Paracatu foi extremamente relevante, pois proporcionou a oportunidade de conhecermos a visão de uma escritora indígena sobre a resistência e a valorização da cultura ancestral na Amazônia. Através de suas palavras, Márcia nos leva a refletir sobre a importância de dar voz a esses povos e de preservar o meio ambiente, respeitando todas as formas de vida.

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