Somente 1.784 municípios, representando menos de 32% do total de mais de 5.570 no Brasil, atingiram a meta para quatro vacinas prioritárias: pentavalente, poliomielite, pneumo-10 e tríplice viral. O Ceará se destacou positivamente, com 59% de suas cidades imunizando o público-alvo, enquanto no Acre apenas 5% alcançaram a mesma proeza. Essa disparidade nas taxas de vacinação evidencia um problema que vai além da política nacional; é um reflexo das realidades locais e das condições específicas enfrentadas em diferentes regiões do país.
O diretor executivo do Instituto Questão de Ciência, Paulo Almeida, enfatiza que a abordagem em saúde deve ser adaptável às particularidades de cada estado e município, ressaltando que cidades vizinhas podem ter taxas de imunização drasticamente diferentes, mesmo com condições semelhantes. A situação é crítica: a vacina BCG, que protege contra tuberculose, só obteve a meta de cobertura em oito estados, com taxas inferiores a 80% em 11 deles.
Isabela Balallai, da Sociedade Brasileira de Imunizações, destaca o papel vital dos gestores municipais na implementação das diretrizes do Ministério da Saúde e na adaptação dos planos de acordo com as especificidades locais. A falta de informação sobre a importância das vacinas e a percepção de risco, que, segundo a especialista, são fatores centrais na hesitação vacinal, precisam ser abordadas de forma eficaz.
Ademais, a questão do acesso se apresenta como um obstáculo. Com 38 mil salas de vacinação disponíveis, o Brasil tem uma infraestrutura robusta, mas a desinformação e a dificuldade de horários para as famílias muitas vezes dificultam a vacinação. A falta de doses disponíveis e a precariedade das informações nos postos de saúde também contribuem para a baixa adesão às vacinas.
Em termos gerais, as taxas de vacinação no Brasil vêm caindo desde 2015, com um pico de queda em 2021. Embora tenha havido uma leve recuperação em 2022 e 2023, as porcentagens de abandono dos esquemas vacinais permanecem constantes desde 2018. Em 2023, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, teve sua cobertura em apenas quatro estados alcançando a meta ideal da primeira dose. Em relação à segunda dose, 14 estados não conseguiram atingir nem 50%.
Diante dos surtos de sarampo em outras partes do mundo e a ocorrência de casos isolados no Brasil, a urgência de uma comunicação efetiva sobre a importância da vacinação nunca foi tão evidente. Para isso, novas estratégias de mobilização, como lembretes via SMS e a utilização das escolas como locais de vacinação e sensibilização, começam a ser vistas como caminhos viáveis para reverter a situação atual.