Os dados revelam que, exceto no Reino Unido, onde a situação se manteve estável em 50%, o consumo de ultraprocessados tem aumentado em todas as nações. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa categoria já representa mais de 60% da dieta. O fenômeno, segundo Carlos Monteiro, um dos pesquisadores envolvidos, está intimamente ligado à atuação de grandes corporações, que, motivadas por lucros, apostam em estratégias de marketing agressivas para promover esses produtos, muitas vezes à custa de dietas saudáveis.
O crescimento no consumo de ultraprocessados não se restringe ao Brasil, mas se reflete globalmente, com países como Espanha, Coreia do Norte e China registrando aumentos consideráveis. A pesquisa revelou uma disseminação desse padrão, inicialmente observado em pessoas de maior renda, mas que agora abrange diversas faixas sociais. Embora o aumento tenha sido mais expressivo em nações de baixa e média renda, não falta gravidade no setor de alta renda, onde países como o Canadá apresentam taxas preocupantes.
Esses produtos, que proliferaram após a Segunda Guerra Mundial, foram concebidos para facilitar o consumo, mas seu crescimento acelerado desde os anos 80 coincidiu com a ascensão de problemas de saúde como obesidade e diabetes. A pesquisa aponta que dietas ricas em ultraprocessados estão associadas a um risco elevado de doenças crônicas, revelando uma preocupação substancial sobre as implicações à saúde pública.
Os cientistas sugerem que é essencial que as políticas de saúde pública sejam intensificadas, trazendo à tona a urgência de promover dietas baseadas em alimentos integrais. A classificação de alimentos em grupos de processamento, introduzida por Monteiro em 2009, é um esforço para ajudar a sociedade a entender como o consumo de ultraprocessados pode comprometer a saúde.
Como solução, os pesquisadores propõem diretrizes rigorosas para reduzir o consumo e sugerem que grandes empresas sejam responsabilizadas pelo impacto negativo de suas práticas. Recomendações como rotulagem clara sobre aditivos e proibição de ultraprocessados em instituições públicas são fundamentais. Além disso, a necessidade de aumentar a disponibilidade de alimentos frescos e implementar impostos sobre ultraprocessados, que poderiam financiar a oferta de opções mais saudáveis para famílias de baixa renda, está em discussão.
Assim, a crise alimentar não pode ser atribuída a decisões individuais, mas surge como resultado da influência de práticas empresariais irresponsáveis que moldam o mercado global. Os ultraprocessados, atualmente o segmento mais lucrativo da indústria alimentar, exigem uma ação coletiva para que o futuro da alimentação e da saúde pública seja recuperado e promovido de maneira sustentável.
