Recentemente, duas pesquisas revelaram preocupações alarmantes sobre os impactos das mudanças climáticas nas crianças brasileiras. Um estudo, encomendado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal ao Datafolha, mostra que mais de 80% da população se sente apreensiva em relação aos efeitos das alterações climáticas em crianças de 0 a 6 anos. A pesquisa, intitulada “Panorama da Primeira Infância: o impacto da crise climática”, analisou as percepções de 2.206 indivíduos, sendo 822 responsáveis por crianças, entre os dias 8 e 10 de abril de 2023.
Entre os principais temores destacados, 71% dos entrevistados expressaram preocupação com os impactos na saúde infantil, com ênfase na incidência de doenças respiratórias. Além disso, 39% mencionaram o aumento do risco de desastres naturais, como enchentes e secas, enquanto 32% se mostraram preocupados com dificuldades de acesso a água potável e alimentos. Apenas 15% dos participantes acreditam que a crise climática promoverá uma maior consciência ambiental, e apenas 6% estão optimistas quanto à capacidade da sociedade de encontrar soluções para mitigar esses problemas.
Mariana Luz, diretora da Fundação, afirmou que o reconhecimento do risco enfrentado pelas crianças representa um avanço significativo. Ela enfatizou que as crianças na primeira infância são as menos responsáveis pela emergência climática, mas são as que mais sofrem suas consequências. A declaração reflete a urgência da ação em prol da proteção desse público vulnerável.
Por outro lado, um estudo conduzido por cientistas de instituições renomadas apontou que bebês em período neonatal (entre 7 e 27 dias) estão em situação de risco extremo, apresentando uma probabilidade 364% maior de morte em condições climáticas adversas. A pesquisa, publicada na revista Environmental Research, analisou mais de um milhão de mortes de crianças menores de 5 anos ao longo de 20 anos e revelou que o risco de mortalidade nessa faixa etária aumentou em 95% durante frio extremo e 29% durante ondas de calor.
Os pesquisadores chamaram atenção para a vulnerabilidade das crianças, destacando que seus organismos ainda estão em desenvolvimento e, portanto, carecem de um sistema de regulação térmica eficaz. Assim, as crianças enfrentam riscos com temperaturas elevadas, como insolação, desidratação e infecções, além de complicações relacionadas ao frio, como hipotermia e dificuldades respiratórias.
No Brasil, as disparidades regionais são evidentes. O sul do país registrou um aumento de 117% na mortalidade infantil relacionada ao frio, enquanto o nordeste viu um aumento de 102% devido ao calor. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que enfrentam maiores dificuldades socioeconômicas e têm acesso limitado a serviços básicos, continuam a concentrar altas taxas de mortalidade infantil associadas a fatores climáticos. O cenário se agrava com o aumento das temperaturas, que representa uma nova ameaça às populações mais vulneráveis. É imperativo que medidas eficazes sejam adotadas para proteger as crianças diante dessa crise climática crescente.