O bioinformata Alex Ranieri, do Centro para Vigilância Viral e Avaliação Sorológica do Butantan, ressaltou que a nomenclatura foi desenvolvida de maneira consensual entre diversas organizações, o que elimina a necessidade de uma aprovação formal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Contudo, existe a expectativa de que a OMS e redes regionais de saúde adotem essa nova classificação como referência, semelhante ao que ocorreu com diversas outras doenças virais.
A nova nomenclatura visa não apenas padronizar a identificação das linhagens do vírus, mas também aprimorar a vigilância sobre as mutações genéticas que o vírus pode sofrer. Com a sistematização proposta, o vírus da dengue, que é classificado em quatro sorotipos (DENV-1 a DENV-4) e possui 17 genótipos, passa a ter uma linha de classificação mais detalhada, incluindo níveis hierárquicos adicionais para as linhagens.
Neste novo sistema, os genótipos são representados por números romanos, enquanto as linhagens maiores são indicadas por letras e as menores por números separados por pontos. Por exemplo, a classificação DENV-3III_C.2 se refere ao sorotipo 3, do genótipo III, linhagem maior C e linhagem menor 2. Essa abordagem detalhada permite que as autoridades reconheçam se um novo surto de dengue, associado a uma linhagem específica, é decorrente de introdução em uma nova área geográfica, facilitando a intervenção rápida e eficaz.
Ranieri também apontou que essa nomenclatura pode ter implicações importantes no desenvolvimento de vacinas contra a dengue. Ao identificar mutações que possam afetar a resposta imune gerada pelas vacinas, o monitoramento contínuo das linhagens permitirá que modificações nas formulações sejam feitas com base em evidências científicas, aumentando assim a eficácia da imunização.
A situação da dengue é alarmante, com mais de 13 milhões de casos notificados em 2024, sendo o Brasil o país mais afetado, com 10,2 milhões de infecções. A doença, que é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, representa um risco significativo à saúde pública, atingindo especialmente países tropicais. A nova nomenclatura surge, portanto, como uma ferramenta crucial para o enfrentamento dessa realidade alarmante.