A menopausa, embora seja um aspecto natural da vida feminina, tornou-se um assunto cercado de estigmas e mal-entendidos. Ao longo do último século, a longevidade feminina deu um salto significativo, aumentando 2,5 vezes. Se em 1900 a expectativa de vida de uma mulher brasileira era de apenas 33,7 anos, hoje esse número chega a 79,9 anos, fazendo com que tantas mulheres passem um terço de suas vidas em menopausa. Estima-se que cerca de 30 milhões de brasileiras estejam vivendo o climatério, período que antecede a menopausa.
Testemunhas dessa transformação são mulheres como a jornalista Maria Cândida, que descreve os sintomas da perimenopausa como uma verdadeira “tempestade”. Ela relatou sentir uma exaustão profunda, irritabilidade e insônia, que a deixavam muitas vezes inerte em casa. Assim como ela, a presidente do Instituto Menopausa Feliz, Adriana Ferreira, compartilha sua experiência de ser diagnosticada como “mulher poliqueixosa”. Ambas encontraram alívio na Terapia de Reposição Hormonal, uma abordagem recomendada para tratar os desafios dessa fase.
O programa também traz à conversa a ginecologista Beatriz Tupinambá, que afirma que o ideal é iniciar o tratamento ainda no climatério, pois essa fase envolve mudanças significativas na saúde das mulheres, incluindo riscos aumentados de doenças cardiovasculares. Ela alerta que após a menopausa, as estatísticas revelam que as mulheres têm o dobro de chances de sofrer um enfarte em comparação aos homens.
O cenário se complica quando falamos da menopausa precoce, que afeta cerca de 1% das mulheres. Casos como o da atriz Julieta Zarza, diagnosticada aos 37 anos, e da confeiteira Nayele Cardoso, que recebeu o diagnóstico aos 27, revelam o impacto emocional desse processo, que muitas vezes é acompanhado de uma sensação de perda.
Fatores como genética, cirurgias e tratamentos como quimioterapia podem precipitar a menopausa, de acordo com especialistas. Além disso, uma pesquisa global indica que quase metade das mulheres sente que a menopausa prejudica seu desempenho no trabalho, citando estresse, dificuldades de concentração e falta de paciência como os principais sintomas.
Em resposta a essa realidade, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que foi estabelecida em 2004, direciona cuidados dentro do Sistema Único de Saúde. Embora haja uma estrutura para suporte na atenção primária, há uma reconhecida necessidade de mais ações voltadas para mulheres em transição para a menopausa. O Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo se destaca como um dos principais centros de atendimento a essa população, com o chefe do Ambulatório de Climatério, José Maria Soares Júnior, mencionando que atende entre 90 a 120 pacientes por semana, oferecendo consultas e terapias específicas para ajudar as mulheres a navegar por essa etapa desafiadora da vida.
