O reconhecimento e a busca por ajuda são etapas cruciais na superação da dependência. Lúcia encontrou apoio no Alcoólicos Anônimos (AA), onde começou a compreender a gravidade de sua situação. Sua experiência a levou a defender a necessidade urgentíssima de políticas públicas voltadas para essa problemática, especialmente considerando a recente sanção da Lei 15.281, que prioriza assistência multiprofissional para mulheres afetadas pelo alcoolismo.
A psiquiatra Natalia Haddad, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, destaca a crescente preocupante de mortes entre mulheres associadas ao consumo de álcool, que aumentaram 27% entre 2010 e 2023. Segundo ela, é crucial que a implementação da nova lei contemple uma abordagem sensível às especificidades de cada grupo dentro do público feminino, já que o tratamento de mulheres alcoolistas difere significativamente do de homens, além de considerar as particularidades de gestantes e adolescentes.
Ainda, Haddad salienta que o impacto do alcoolismo é desproporcional entre diferentes grupos étnicos, com 70% das mortes relacionadas a esse transtorno ocorrendo entre mulheres pretas e pardas. A necessidade de um olhar atento à interseção de gênero e classe social no tratamento do alcoolismo é imprescindível.
A psiquiatra também ressalta as barreiras sociais que muitas mulheres enfrentam ao buscar tratamento. Sentimentos de culpa e estigma contribuem para o isolamento, dificultando o reconhecimento do problema e a solicitação de ajuda. Para melhorar essa situação, Haddad sugere a criação de grupos de apoio exclusivos para mulheres, pois a simplicidade em compartilhar experiências em um ambiente seguro pode ser um fator decisivo na recuperação.
Grupos femininos dentro do AA têm se mostrado um espaço acolhedor, onde as participantes podem expressar suas histórias sem medo de julgamentos. Mulheres como Kika, do Rio de Janeiro, compartilham como é fundamental ter um ambiente de apoio pela semelhança nas experiências vividas. A adesão às reuniões femininas também cresceu significativamente, especialmente após a pandemia, o que evidencia a busca por um espaço de acolhimento.
Estudos indicam que cerca de 6,5 mil mulheres procuraram auxílio por meio da iniciativa Colcha de Retalhos, que promove visibilidade para o alcoolismo feminino e oferece grupos de apoio, tornando a luta contra essa dependência um pouco mais acessível e menos solitária.
A nova legislação, que visa fortalecer o suporte às mulheres, é um passo importante, mas a implementação de suas diretrizes e a criação de estratégias eficazes de assistência são cruciais para transformar positivamente a vida de muitas mulheres que lutam contra essa dependência e o estigma associado a ela.
