SAÚDE – Fila por transplante de córnea no Brasil cresce e média de espera atinge 374 dias, mais que o dobro de uma década atrás, alerta Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

A espera por transplantes de córnea no Brasil enfrenta uma crise alarmante, com a média de espera alcançando 374 dias atualmente, mais que o dobro do registrado há uma década, que era de 174 dias. Esse aumento significativo deve-se a diversos fatores, incluindo a falta de atualização nos valores pagos pelos procedimentos e os efeitos colaterais da pandemia de COVID-19, que causaram um represamento de pacientes entre 2020 e 2023.

Os dados, coletados entre 2015 e 2024, foram apresentados recentemente durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado em Curitiba, onde especialistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alertaram para a persistência dessa tendência crescente. Nos primeiros seis meses de 2023, o tempo médio de espera já se aproximava de 369 dias, indicando que a situação não mostra sinais de melhora no curto prazo. Essa média é representativa do volume de procedimentos realizados no país, e não se deve apenas à distribuição aritmética entre os Estados.

Os desafios enfrentados pelos bancos de olhos, que lidam com a escassez de recursos e o aumento dos custos dos insumos, são uma das principais razões para o aumento do tempo de espera. Além disso, o CBO mencionou requisitos cada vez mais rigorosos na produção e processamento da córnea, complicando ainda mais a situação.

A análise do CBO revela uma disparidade significativa entre os Estados. Enquanto lugares como Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte registram filas com tempos de espera superiores a mil dias, estados como Ceará e Santa Catarina apresentam tempos consideravelmente menores, com 58 e 164 dias, respectivamente.

Até julho de 2025, o Brasil registrou cerca de 31.240 pessoas aguardando na fila para um transplante de córnea, sendo que São Paulo concentra a maior parte desse número, com 6.617 pacientes. Esse quadro é notablemente dominado por mulheres, que representam 55,7% do total de pacientes, enquanto quase metade dos que aguardam são pessoas com 65 anos ou mais, refletindo o envelhecimento da população.

Apesar das dificuldades atuais, o CBO sublinha a qualidade do sistema brasileiro de transplantes, que ainda se destaca positivamente no cenário internacional, superando países como Argentina e Chile. Entre janeiro de 2015 e julho de 2025, foram realizadas mais de 150 mil cirurgias de transplante de córnea, com São Paulo liderando em volume de procedimentos. O futuro, no entanto, exige ações urgentes para reverter a tendência de aumento nas filas e garantir que mais brasileiros tenham acesso a esse procedimento vital.

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