A análise abrangeu dados de 161.981 indivíduos em 40 países, incluindo o Brasil. Utilizando tecnologias avançadas como inteligência artificial e modelagem epidemiológica, os pesquisadores puderam avaliar as chamadas “diferenças de idade biocomportamentais” (BBAGs). Esse conceito mede a discrepância entre a idade cronológica de um indivíduo e a que seria esperada com base em sua saúde geral, habilidades cognitivas, nível educacional e fatores de risco, como condições cardiometabólicas e deficiências sensoriais.
Os resultados desafiam a visão tradicional de que o envelhecimento é determinado apenas por questões pessoais, como genética ou hábitos de vida. De acordo com Eduardo Zimmer, professor da UFRGS e um dos autores do estudo, os dados evidenciam que o ambiente em que vivemos pode impactar significativamente nossa saúde mental e cognitiva. Ele enfatiza que, em um país como o Brasil, caracterizado por grandes desigualdades, essas descobertas possuem implicações diretas para a formulação de políticas públicas.
Os pesquisadores identificaram que condições como baixas rendas, péssima qualidade do ar, desigualdade de gênero e a fragilidade das instituições democráticas estão associados ao envelhecimento acelerado. Em particular, países com altos índices de corrupção e baixa transparência governamental apresentam taxas maiores de envelhecimento cerebral. Um dos trechos do estudo destaca que a confiança nas instituições governamentais está relacionada a melhores resultados de saúde, enquanto a desconfiança e a polarização política contribuem para uma maior mortalidade e enfraquecem as ações de saúde pública.
Pessoas expostas a cenários de governança instável podem sofrer de estresse crônico, o que acarreta riscos para a saúde cardiovascular e cognitiva. Comparando dados, cidadãos de países europeus como França e Alemanha e asiáticos como Japão e Coreia do Sul demonstraram um envelhecimento cerebral mais lento, enquanto indivíduos de regiões africanas como Egito e África do Sul apresentam um processo de envelhecimento mais acelerado, com o Brasil ocupando uma posição intermediária.
Wyllians Borelli, outro pesquisador da UFRGS, ressalta que o lugar onde uma pessoa nasce e vive pode impactar diretamente o envelhecimento cerebral em função da desigualdade no acesso a recursos e serviços de saúde. Lucas da Ros, também integrante do estudo, finaliza enfatizando a urgência de focar na redução das desigualdades sociais e no desenvolvimento regional para promover um envelhecimento mais saudável da população.