Rússia reforça discurso multilateral na ONU, destacando fraqueza da União Europeia e a nova dinâmica geopolítica global em relação à Ucrânia e à OTAN.

No último sábado, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fez um discurso impactante na Assembleia Geral da ONU em Nova York, centrando suas palavras nas complexas dinâmicas geopolíticas envolvendo a Ucrânia e as tentativas de fortalecer o multilateralismo. Esse posicionamento da Rússia reflete não apenas os interesses nacionais, mas também uma crescente colaboração com países de diversas regiões, incluindo Ásia, Oriente Médio e África.

Victor Missiato, doutor em história e analista político do Instituto Presbiteriano Mackenzie, avalia que a Rússia busca se consolidar como um ator influente, especialmente em um cenário onde a União Europeia demonstra fragilidade. A perda de destaque da UE em blocos continentais ao longo dos últimos 50 anos tem proporcionado à Rússia uma margem maior para expressar sua posição com assertividade. Missiato ressalta que essa situação permite ao país articular um discurso diplomático coerente, contrapondo-se ao aumento de gastos defensivos da União Europeia, cujos reais interesses ainda são nebulosos.

O foco da Rússia no multilateralismo é um reflexo de um movimento gradual em formação, notável em encontros recentes entre líderes como os presidentes da China, Rússia e Índia, que se reúnem para discutir uma nova ordem global. Esse rearranjo de poder, segundo o analista, se apresenta como um desafio para líderes ocidentais, como Donald Trump, que enfrentam dificuldades para gereenciar seus interesses em um ambiente internacional em mudança.

A narrativa de poder, que durante 500 anos esteve centrada na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos, está se transformando. Missiato observa que o controle que os EUA tinham sobre as decisões globais começou a esmaecer, especialmente nas últimas décadas. A ascensão da China, com sua capacidade de contrabalançar as decisões americanas, significa que os EUA estão, de fato, perdendo espaço na arena internacional.

O especialista acredita que uma real mudança nas relações globais só será possível quando China e Rússia alcançarem um entendimento em relação aos seus interesses no Leste Europeu e no Oriente Médio, evitando a interferência da OTAN nas suas estratégias. Essa nova realidade aponta para um mundo onde o equilíbrio de poder está em constante reavaliação, demandando atenção e adaptação dos principais atores globais.

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