No Festival de Veneza, onde o filme teve sua estreia mundial fora de competição, Linklater compartilhou sua visão intrigante sobre o mundo dos matadores de aluguel. O diretor ressalta que, embora existam relatos de encomendas de assassinatos, a ideia de uma pessoa comum contratar alguém desconhecido para eliminar um inimigo é uma construção fictícia perpetuada pelo cinema.
De forma irônica, “Assassino por acaso” foi apresentado junto com o filme “O assassino”, que retrata a história de um matador de aluguel envolvido em uma caçada humana. No entanto, ao contrário da obra de David Fincher, que glorifica o criminoso, o filme de Linklater busca desconstruir a imagem do matador de aluguel.
Na trama, Glenn Powell interpreta um professor de filosofia que atua como falso assassino de aluguel, servindo de isca para a polícia local. No entanto, ao se apaixonar por uma cliente, ele se vê em uma situação moralmente ambígua, repleta de reviravoltas cômicas.
O diretor reflete sobre a nossa fascinação pela violência e atração por personagens fictícios como os matadores de aluguel, questionando o porquê dessa admiração persistente. Linklater destaca a capacidade do cinema de explorar diversas facetas desses personagens, como a comédia romântica, o filme noir e o suspense, enquanto examina questões mais profundas sobre identidade e moralidade.
“Assassino por acaso” é baseado em um artigo sobre crimes reais escrito por Skip Hollandsworth, que inspirou o diretor a transformar a história de Gary Johnson em um filme. Embora o verdadeiro Gary Johnson tenha falecido antes das filmagens, Linklater dedica o filme a ele e revela que, embora nunca tenha se encontrado pessoalmente com o protagonista, teve contato por telefone e sentiu que sua vida poderia render uma narrativa cinematográfica cativante.
Além deste projeto, Linklater tem outros filmes em andamento, incluindo “Nouvelle vague”, que retrata os bastidores das filmagens de “Acossado” (1960), de Jean-Luc Godard. O cineasta não descarta a possibilidade de dar continuidade à trilogia “Antes do amanhecer”, indicando que, se surgir uma oportunidade interessante para os personagens, um novo filme poderá ser desenvolvido.
Assim, Richard Linklater continua desafiando as convenções cinematográficas em “Assassino por acaso”, um filme que mergulha nas complexidades da identidade, da moralidade e das facetas mais obscuras da natureza humana.