Reviravolta de Milei: da hostilidade à China a novo “parceiro comercial” em tempos de crise econômica na Argentina. Especialistas analisam mudanças na política externa.

Nas últimas semanas, o presidente da Argentina, Javier Milei, tem apresentado uma reviravolta surpreendente na sua política externa, especialmente no que diz respeito às relações com a China. Pouco tempo atrás, Milei adota uma postura abertamente crítica em relação ao gigante asiático, que era frequentemente retratado como um aliado comunista e indesejável. No entanto, já em outubro de 2024, o presidente descreveu a China como um “parceiro comercial muito interessante”, reconhecendo sua importância crucial para a economia argentina.

Após assumir o cargo em dezembro de 2023, Milei recorreu a uma retórica acirrada, favorecendo uma postura pró-Ocidental e se opondo claramente às relações com a China. Contudo, a realidade econômica da Argentina, marcada por uma dívida externa exorbitante e uma inflação galopante, trouxe à tona a necessidade de uma abordagem mais pragmática para as relações exteriores. Especialistas em política internacional observam que ele teve um “choque de realidade”, conforme percebeu que a China não é apenas um parceiro econômico vital, mas também um dos poucos países dispostos a oferecer apoio, na forma de investimentos e novos empréstimos.

A mudança na retórica de Milei reflete uma conscientização crescente de que o Ocidente talvez não esteja tão comprometido com os interesses argentinos como ele inicialmente presumiu. Durante suas declarações, o presidente ressaltou que a China “não exige nada, exceto que não sejam incomodados”, o que contrasta fortemente com as promessas frequentemente não cumpridas dos Estados Unidos.

Para muitos analistas, essa mudança de postura de Milei não é simplesmente uma questão de conveniência econômica, mas uma adaptação a um novo contexto global em que a América Latina deve buscar diversificação em suas parcerias internacionais. A região, historicamente dependente dos Estados Unidos, agora vê a China como uma alternativa mais viável, particularmente em tempos de crise, onde o ocidente tende a reagir com generosidade apenas em situações de ameaça direta.

Enquanto isso, o real impacto dessa nova relação com a China ainda não é totalmente claro. Embora a China possa reescalonar dívidas e oferecer um alívio financeiro, as incertezas permanecem quanto à capacidade do governo argentino de garantir crescimento econômico e emprego para sua população. A transição para essa nova realidade política e econômica certamente será acompanhada de desafios significativos, e a sociedade argentina pode enfrentar um alto custo social em termos de cortes e reformas necessárias para navegar nesse novo panorama global.

A Argentina, assim como muitos outros países da região, precisa não apenas olhar para o Oriente quando procura parceiros, mas também diversificar suas fontes de apoio para evitar dependências perigosamente desequilibradas. Neste contexto, as lições do passado e o emergente cenário internacional indicam que a capacidade de Milei de equilibrar essas relações será crucial para o futuro econômico da Argentina.

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