Os trabalhos arqueológicos, que começaram em setembro do ano passado, têm como objetivo preservar e estudar os vestígios encontrados, assim como recuperar informações valiosas sobre o passado da cidade. Até agora, só nesta atual fase de escavação, já foram identificados e recuperados 61 corpos, que incluem tanto adultos quanto crianças. Este cemitério, criado por um decreto do rei D. Pedro IV, foi uma resposta urgente a um aumento alarmante no número de mortes devido à cólera, evidenciando como as crises de saúde pública foram relevantes na formação das estruturas sociais e urbanas da época.
Os arqueólogos têm se deparado com uma variedade de práticas funerárias, que vão desde sepultamentos em caixões de madeira até aquelas realizadas com mortalhas simples. A proteção e o cuidado durante o enterro são aspectos notáveis desse espaço, já que as escavações revelaram que não existem valas comuns; ao contrário, as sepulturas foram preparadas com atenção, conforme declararam especialistas envolvidos no projeto.
Além de características interessantes dos corpos, como o equilíbrio entre indivíduos do sexo masculino e feminino, os arqueólogos acharam artefatos que sugerem a presença de soldados ingleses no local. Um dos corpos exumados continha botões de um fardamento com inscrições que podem estar relacionadas ao rei George, indicando que até mesmo questões geopolíticas estiveram entrelaçadas nos eventos que moldaram esse cemitério.
A pesquisa contínua neste local promete trazer à tona mais informações sobre a vida e a morte em um período crítico da história portuguesa. A descoberta de alicerces que podem pertencer a uma antiga igreja na área ressalta ainda mais o impacto histórico das escavações, prometendo novos insights sobre as dinâmicas sociais e religiosas do século XIX em Portugal. Este projeto é um lembrete valioso de como a história está sempre presente, mesmo sob a superfície de espaços públicos modernos.