Relatório da PF Revela Monitoramento Ilegal de Autoridades e Celebridades pela Abin Durante Governo Bolsonaro

O recente relatório final da Polícia Federal revelou uma investigação que expõe um grave escândalo de monitoramento ilegal de autoridades no Brasil pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O documento, que teve seu sigilo derrubado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, revelou que mais de 30 indivíduos foram indiciados, incluindo figuras notórias ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como o vereador Carlos Bolsonaro e o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem.

Conforme expõem as investigações, a Abin foi usada por aliados de Bolsonaro para conduzir operações que visavam a espionagem de adversários políticos, juízes, jornalistas e até caminhoneiros, com o objetivo de levantar informações que pudessem ser utilizadas para fins politicamente motivados. Um dos pontos mais discutidos do relatório é o uso de um software israelense, denominado “First Mile”, que permitia o rastreamento irregular da localização de celulares de diversas personalidades públicas. Esta tecnologia, adquirida pelo governo brasileiro, gerou preocupações quanto à sua aplicação e à violação de direitos fundamentais.

Além dos indiciamentos, o inquérito também trouxe à tona a prática de elaboração de “dossiês” contra diversas figuras proeminentes, incluindo ministros do STF e parlamentares influentes. Tais ações, segundo a PF, originaram-se diretamente do Palácio da Alvorada, comprovando a motivação claramente política das operações clandestinas.

Entre os alvos das investigações estava a ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, cujo caso continua cercado de controvérsias. A Abin também teria monitorado a força-tarefa responsável por investigar sua morte, o que levanta novos questionamentos sobre a ética e a legalidade nas atuações da agência de inteligência.

Narrativas gravadas e documentos encontrados revelaram que o escopo do monitoramento se estendia a críticos do governo, incluindo artistas e jornalistas, como o ex-deputado Jean Wyllys e o humorista Gregório Duvivier. Mensagens trocadas entre agentes demonstram um esforço sistemático para localizar e vigiar essas figuras, o que reforça a tese de que a Abin operava à margem de sua função constitucional.

Este escândalo de espionagem revela não apenas uma grave violação de privacidade, mas também a instrumentalização de uma agência governamental para fins pessoais e políticos, sinalizando a degradação das práticas democráticas no país. A repercussão desse caso poderá ter consequências profundas nas tensões políticas atuais e na confiança da população nas instituições do Estado brasileiro.

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