A anotação em questão dizia: “Prisão em flagrante do delegado que se dispuser a cumprir”. Para a PF, isso deixou claro que uma organização criminosa estava elaborando formas de pressionar os membros da corporação a interromperem investigações contra seus próprios integrantes. O plano previa obter um “aval jurídico” da Advocacia-Geral da União (AGU) e a aprovação do então presidente Jair Bolsonaro, tornando crime de responsabilidade o cumprimento de ordens judiciais consideradas ilegais pelo governo.
Além disso, as anotações de Heleno indicavam uma comunhão de esforços para que a AGU produzisse um documento fundamentado na Constituição Federal, com o objetivo de impedir a PF de exercer seus deveres constitucionais. Todo o plano envolvia a participação do Ministério da Justiça, que, uma vez informado do aval jurídico favorável, comunicaria o diretor-geral da PF para tomar “desdobramentos” de ação.
O relatório do inquérito destaca que as anotações de Heleno se alinham com documentos apreendidos com o ex-diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, que teria sugerido a Bolsonaro a retirada da autonomia dos delegados da PF para facilitar o controle de investigações em andamento. Ramagem propôs que inquéritos no STF passassem a ser de responsabilidade do diretor-geral da PF. Ambos, Heleno e Ramagem, estão entre os 37 indiciados no inquérito do golpe, mas negam qualquer envolvimento no caso.
Essas revelações surgem em um momento crucial da vida política do país, levantando questionamentos sobre a independência das instituições e a tentativa de interferência no trabalho de órgãos como a Polícia Federal. A sociedade aguarda por respostas e esclarecimentos sobre esses graves indícios de ameaça à ordem democrática.