O exército israelense informou, neste sábado, que os reféns mortos “por engano” na Faixa de Gaza agitavam uma bandeira branca e pediram ajuda em hebraico, segundo os primeiros elementos da investigação. Israel admitiu, nesta sexta-feira, que os reféns — sequestrados pelo Hamas no ataque terrorista de 7 de outubro — foram fuzilados após soldados os terem identificado “erroneamente” como uma ameaça.
De acordo com os militares, os três reféns — Yotam Haim, de 28 anos, Alon Shamriz, de 26, e Samer El Talalqa, de 25 — apareceram “a poucos metros de uma das posições” de Israel no bairro de Shejaiya, na Faixa de Gaza. “Um dos soldados os viu quando apareceram. Não usavam camisa e traziam um bastão com um pano branco. O soldado sentiu-se ameaçado e disparou, declarando que eram terroristas. Dois (reféns) morreram”, acrescentou esta fonte: “Imediatamente outro foi ferido e correu em direção a um edifício”, explicou, notando que os soldados “ouviram um grito de socorro em hebraico”.
“O comandante do batalhão ordenou que o tiroteio parasse, mas foram disparados novamente contra a terceira pessoa e ela morreu”, continuou o oficial militar.
Pouco depois do anúncio da morte dos três reféns, na noite de sexta-feira, famílias e apoiantes manifestaram-se para pedir um acordo imediato para a libertação dos cativos em Tel Aviv, onde também estavam previstos encontros no sábado. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a morte dos reféns como uma “tragédia insuportável”, que mergulha “todo o Estado de Israel no luto”.
Nos Estados Unidos, a Casa Branca descreveu a morte dos reféns como um “erro trágico”. Os bombardeamentos israelenses causaram pelo menos 18.800 mortes, 70% das quais mulheres, crianças e adolescentes, conforme o último relatório do Ministério da Saúde do Hamas.
Um acordo de trégua, mediado pelo Qatar, Egipto e Estados Unidos, permitiu uma pausa de uma semana nos combates, no final de novembro, a libertação de mais de 100 reféns em troca de 240 palestinos presos em Israel, bem como a entrega de ajuda humanitária de emergência. Atualmente, ainda existem 129 reféns em Gaza.
Após o anúncio da morte dos três reféns, o site de notícias Axios informou que o diretor do Mossad — a agência de inteligência israelense —, David Barnea, deve se reunir neste fim de semana na Europa com o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, para contemplar uma segunda fase de trégua que permitiria a libertação de mais reféns.
A ONU e as ONG descrevem as condições de vida na superlotada Faixa de Gaza, sitiada por Israel desde o dia 9 de outubro, como um pesadelo. Os civis palestinos estão amontoados em áreas cada vez menores. Cerca de 1,9 milhões de habitantes (85% da população) foram deslocados, segundo a ONU. Muitos tiveram que fugir diversas vezes à medida que os combates se espalhavam pelo território.
O Hamas relatou, no sábado, “combates ferozes” no setor de Jabaliya (norte), ataques aéreos e intenso fogo de artilharia em Khan Yunis, o novo epicentro dos combates no sul do enclave. Já Israel, por seu lado, continua a ser alvo de foguetes lançados a partir da Faixa de Gaza. Jornalistas da AFP viram vários foguetes interceptados sobre Jerusalém na noite de sexta-feira.
Em visita a Israel na quinta-feira e na sexta-feira, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, apelou às autoridades israelenses que passassem para uma fase de “menor intensidade”. O presidente dos EUA, Joe Biden, por sua vez, alertou o seu aliado israelense que corria o risco de perder o seu apoio internacional. Confrontado com uma pressão crescente, Israel anunciou uma “medida temporária” para permitir a entrega de ajuda a Gaza através da passagem fronteiriça de Kerem Shalom.