Os cientistas descobriram que a psilocibina consegue enfraquecer circuitos de feedback córtico-cortical, que tendem a aprisionar os indivíduos em um ciclo de pensamentos negativos. Além disso, o composto atua para reforçar conexões com regiões subcorticais, responsáveis por transformar percepções sensoriais em ações motoras, aprimorando assim a resposta sensório-motora.
Considerada uma forte candidata para futuras terapias farmacêuticas, a psilocibina já demonstrou em ensaios clínicos a capacidade de reduzir sintomas de depressão por semanas ou meses após a administração de uma única dose. O vírus da raiva utilizado no estudo foi desenvolvido por cientistas do Instituto Allen de Ciências do Cérebro, em Seattle, com o objetivo de mapear a complexa rede de circuitos cerebrais, funcionando de maneira análoga aos veículos do Google que percorrem ruas para capturar imagens para o Google Maps.
O professor Alex Kwan, que liderou a pesquisa, explicou que a adição da psilocibina aos neurônios oferece uma nova perspectiva sobre a conectividade cerebral, utilizando o vírus da raiva para visualizar as sinapses. No experimento, uma dose única de psilocibina foi injetada nos neurônios piramidais do córtex frontal de camundongos, seguida pela introdução do vírus, que marca neurônios conectados com proteínas fluorescentes.
As imagens capturadas após uma semana revelaram que a psilocibina tinha um efeito notável: as conexões recorrentes dentro do córtex foram significativamente enfraquecidas. Este achado lança luz sobre a experiência de ruminação, um fenômeno comum em pessoas com depressão, onde pensamentos negativos são incessantemente repetidos. A pesquisa sugere que a psilocibina pode, de fato, contribuir para a reconfiguração do cérebro, quebrando esses ciclos prejudiciais de pensamento.
Além disso, o estudo evidenciou que a área sensorial do cérebro se conectou de maneira mais robusta à região subcortical, potencializando a ligação entre percepção e movimento. Essa descoberta indica que as implicações de tais reconfigurações são muito mais abrangentes do que os pesquisadores inicialmente supuseram, afetando o cérebro como um todo.
Kwan ressaltou que essa pesquisa abre um novo leque de possibilidades terapêuticas, permitindo a manipulação da atividade neural de modo a potencializar a plasticidade positiva e reduzir a negativa. Essa abordagem poderia representar um avanço significativo no tratamento de condições psiquiátricas, como a depressão, utilizando a psilocibina de forma mais eficiente e direcionada.









