Promotor do Piauí se torna réu por corrupção; tribunal suspende julgamento após pedido de vista

O Tribunal de Justiça do Piauí se viu diante de uma situação delicada, com o desembargador Ricardo Gentil Eulálio apresentando um voto que pode levar o promotor de Justiça, Maurício Verdejo Gonçalves Júnior, ao banco dos réus. Verdejo, que já foi afastado de suas funções no Ministério Público, enfrenta graves acusações de corrupção, incluídas na lista de crimes a serem investigados, como concussão, prevaricação, supressão de documento e tráfico de influência.

O processo gerou um clima de expectativa no tribunal, mas a votação foi temporariamente suspensa devido a um pedido de vista do desembargador Pedro Macêdo, que solicitou mais tempo para análise do caso. A retomada da discussão não possui um prazo definido, o que acrescenta um elemento de incerteza à já tensa situação.

As acusações contra Verdejo são especialmente preocupantes: ele é acusado de exigir R$ 3 milhões em propinas de Junno Pinheiro Campos de Sousa, um empresário do setor hospitalar, visando arquivar duas investigações criminais que o envolviam. A gravidade da situação foi acentuada pela apreensão de R$ 900 mil em dinheiro vivo em sua residência durante a operação da Polícia Federal que investiga o caso, batizada de Operação Iscariotes.

Além de Verdejo, o advogado André Ricardo Bispo Lima, que atuava como assessor no Ministério Público, também foi denunciado e exonerado após a revelação dos fatos. O tribunal agora tem a responsabilidade de decidir se mantém as medidas cautelares impostas aos envolvidos, incluindo o afastamento do promotor de suas funções e o monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica.

Em sua defesa, o advogado João Marcos Araújo Parente argumentou que as evidências apresentadas carecem de robustez e sugeriu que as conversas via WhatsApp entre Verdejo e o empresário envelhecem um contexto de “transação e negócio bilateral”. Ele questionou a legitimidade da denúncia, alegando que somente a palavra do empresário não é suficiente para justificar a acusação de extorsão.

O desembargador Eulálio defendeu a aceitação da denúncia, ressaltando que a documentação apresentada expõe de maneira detalhada o contexto e as circunstâncias do crime, além de estar respaldada por um amplo conjunto de provas. Neste momento, o tribunal está em fase de avaliação se existem indícios suficientes para justificar a abertura de uma ação penal, que, se ocorrer, permitirá um exame mais profundo do mérito do caso.

As origens da investigação remontam a uma denúncia feita pelo próprio empresário, que afirmou ter sido abordado pelo promotor de Justiça em um restaurante, onde supostamente teria recebido uma exigência para o pagamento da quantia solicitada a fim de evitar novas investigações. Parte do dinheiro foi filmada durante uma ação controlada, estipulando evidências que podem ser cruciais na elucidação dos fatos. A situação alarma não apenas os envolvidos diretamente, mas também a sociedade, que clama por transparência e justiça em casos dessa magnitude.

Sair da versão mobile