PREVÊNÇÃO – Câmara discute estratégias de prevenção e combate à violência nas escolas de Maceió



Os fatos violentos ocorridos em escolas de todo o país motivou a Câmara Municipal de Maceió a realizar, na tarde desta segunda-feira (17), uma audiência pública para debater medidas para a segurança na rede municipal de ensino. Proposta pelo vereador João Gabriel (PSD) a audiência reuniu especilistas em educação, psicologia, conselheiros tutelares, professores e profissionais de segurança. O parlamentar aproveitou a oportunidade para detalhar o projeto que tramita na casa para a compra de portas giratórias e detectores de metais para serem adotados em escolas da rede pública e particular.
“Estamos abrindo o debate com a sociedade civil mas queremos a participação das entidades públicas e privadas. Queremos ampliar mais o tema que tem sido muito comentado em nosso país. Depois de escutarmos as instituições e o município iremos sugerir algumas ideias. Recentemente apresentamos a proposta de portas giratórias nas escolas e detectores de metais. Estive em Chapecó (SC), no último final de semana, e estou convencido de que é uma medida que funciona. Mas é claro que vamos também incentivar outras iniciativas como núcleos interdisciplinares de apoio aos estudantes para ser instalado nas entidades educacionais”, defendeu Joãozinho.
No início da sessão o parlamentar apresentou detalhes da visita e do funicionamento das portas giratórias na cidade. Conforme apresentou, após o equipamento há um outro espaço com grades que serve como uma segunda barreira para que o acesso possa ocorrer a unidade. Toda a operação dos equipamentos em Santa Catarina é feita por um servidor da escola. Nas unidades do município a gestão escolar realiza um dia dedicado à família dos estudantes onde todos celebram juntos com manifestações culturais.
Calma
Em Maceió, a Secretaria Municipal de Educação está realizando um trabalho de tranquilização nas unidades. O secretário João Neto explicou que no momento isso é algo fundamental para acalmar o ambiente escolar como forma de evitar o abandono e o clima de pânico na rede municipal.
“Estamos trabalhando para acalmar a rede porque a situação ficou um pouco fora do controle, com muita pressão da população. Houve também muita fakenews. Então estamos trabalhando de forma preventiva junto com Secretaria Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Social (Senscs). O objetivo, repito, é acalmar os servidores e os alunos. Nós já tínhamos o planejamento de contratarmos porteiros escolares para reforçar a seguraça antes mesmo destes acontecimentos. Então já há um processo em fase de licitação na reta final para controlar o fluxo e indentificar pessoas que sejam estranhas a comunidade escolar”, destacou José Neto.
Para o presidente do Sindicato dos Professores da Rede Privada de Ensino Eduardo Vasconcelos a questão central reside no fato de que os problemas foram se acumulando. A existência do bullyng, assédio, discursos de ódio contra professores, acusação de presença de ideologia foram gerando desconfiança e afastando os pais das escolas.
Em sua avaliação os professores já vinham sendo vítimas do processo de crescimento da violência, tanto que os números indicam que ainda são as maiores vítimas. Por outro lado o problema existe e afeta os dois lados: alunos e a comunidade escolar. Falta afeto, discussão e prevenção. Por isso, hoje se chega a medidas mais extremas, mas que em sua avalição não são as ideais.
“Educação não é feita apenas dentro da instituição. A educação não é um ato do professor. Mas de todo um corpo escolar. Tem a família que cumpre um papel importante. Agente infelizmente como dizia o escritor José Saramago ‘estamos voltando ao tempo das cavernas’.  Infelizmente a essência da educação com esse tipo de ataques é destruída. Educação não se faz sem afeto, que muitas vezes os alunos não têm em casa.  Vamos ter que nos juntarmos ao poder público e a CMM que cumpre um papel importante. Ajudamos ao vereador que propôs o projeto das portas giratórias, mas infelizmente não é o ideal. Proporcionalmente quem mais está morrendo é o professor. A educação está sendo colocada em xeque”, disse Eudardo.
Enquanto a solução definitiva não surge cada segmento atua com o que pode. A  secretária adjunta da Secretarial Municipal de Segurança Comunitária e Convívio Urbano Talyta Nobre disse que todo o efetivo possível está disponível para atender as demandas da Semed. A comunicação entre os órgãos foi ampliada e está sendo feito um trabalho preventivo que também inclui palestras e uma presença nas unidades.
“Nós intensificamos todas as rondas escolars e mantido contato constante com os diretores das unidades. Além disso, também estamos ministrando palestras em caso de situações de risco. E estamos conversnado com o Executivo Municipal para abordamos outras estratégias. Tudo isso para tornarmos o ambiente escolar mais seguro”, disse.
Responsabilidade
O ex-secretário da Senscs cel Ênio Bolivar destacou que os EUA são uma referência no combate e contenção de atentados em massa. Ele relembrou o caso de Columbine que deu início a todo o processo de segurança coletiva pois o tipo de perfil do agressor pode ocorrer em qualquer lugar.
“As medidas são paliativas mas são importantes. Há mais de 20 anos isso ocorre no mundo. O primeiro fato foi em 1999 mas hoje nos Estados Unidos já foram registrados 333 incidentes. A palavra da vez chama-se educação. Temos que dar responsabilidade aos pais já que eles precisam saber o que os filhos olham na internet e com quem conversam. Têm que saber os passos do filho. O perfil desse tipo de agressor acontece aos nossos olhos. Estamos vendo e trago uma máxima comigo que o meu pai sempre falava: o mal do protegido é o protetor. Cada passada de mão na cabeça do filho podemos pagar lá na frente. A educação tem que ser dada pelos pais. Na escola vamos buscar o conhecimento. Ele tem que ir educado para a escola. São questões de valores que temos que resgatar. Temos que ter esse viés e essa preocupação”, disse Bolivar.
Ele questionou o fato de uma parte da mídia ainda se dedicar a fazer sensacionalismo com os fatos ocorridos pois isso acaba por provocar e despertar pessoas com problemas. Bolivar também defendeu que os sindicatos de trabalhadores apoiem trabalhos preventivos como o que é desenvolvido pela PM como o programa Proerd.
Entre os trabalhadores da educação o problema é grave e pode ter relação com o sentimento de ódio que surgiu com maior força nos últimos anos nas redes sociais. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Izael Ribeiro presidente do Sinteal a presença de vigilância armada e as portas giratórias não sejam a melhor solução. O sindicalista defendeu a ampliação do debate dentro da escola como forma de prevenção e o monitoramento a grupos extremistas.
“Temos ouvido diversos pontos de vista e um deles é o bullyng nas escolas e também a alienação parental. Mas para além disso evidenciamos a vulnerabilidade desses jovens a ideologias extremistas e conteúdos que não deveriam estar circulando tão livres. E tudo sem reseponsabilidade das próprias plataformas. A mídia noticiou a existência de grupos no zap e telegram. Essa questão do ódio, racismo e misogenia evoluiu muito nos últimos quatro anos e agora chegou com mais força em nossas escolas. Isso foi construído de fora para dentro das escolas. E ainda vem a espetacularização da mídia e isso tem sido colocado para pensarmos de como esses casos devem ser noticiados. Por isso, é importante discutirmos isso com várias frentes. Não acreditamos que a presença de pessoas armadas nas escolas seja a solução. Assim como as portas giratórias, monitoramento com câmeras e outros. Precisamos ir além disso e pensarmos um conjunto de políticas públicas com  monitoramento dos grupos extremistas e que a população seja desarmada com o desenvolvimento de ações para os grupos de tiro. Que se impeçam crianças de treinar em grupos de tiro. Isso precisa ser barrado”, disse o presidente do Sinteal.
União
O vereador Leonardo Dias (PL) disse que começou a ver os casos a partir do episódio de Bluneu e com o comportamento da imprensa. O alarmismo que foi feito e como foi tratado o autor com sua imagem divulgada acabou por incentivar outras pessoas. Por isso, defendeu que não sejam noticiados os casos com a imagem dos autores dos atentados.
“Entendo que toda a segurança que dermos as crianças e professores ainda é pouco. Mas isso não vai acabar com os casos que temos presenciado. Armas não tem nada a ver com o que estamos vendo agora. Não foram usadas armas de fogo e sim facas e machadinhas. Temos que tratar as coisas como elas são. Temos uma sociedade adoentada. Hoje um professor pode ser atacado se rezar um Pai Nosso. Agora, no intervalo da escola se tocam de tudo como músicas que atacam e coisificam as mulheres. Vivemos na sociedade uma necessidade de libertar as crianças,mas que tirou toda a disciplina. O ser humano, não tenho dúvidas, é intrinsicamente voltado para a autopreservação e autosatisfação. E aí quem segura são os freios. O freio moral, da religião e o da lei”, defendeu Leonardo.
O parlamentar se posicionou contra a segurança armada nas escolas por acreditar que ao invés de supreender ele pode ser supreendido e sua arma ser usada contra os estudantes. Leonardo Dias defendeu que o debate seja feito com as famílias que estão com os pais doentes e, por consequência, os filhos também adoeceram.
A preocupação das escolas da rede privada Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Alagoas (Sinep) Barbára Heliodora o momento é crítico e exige respostas imediatas. Sendo que a principal delas é o fortalecimento de toda a rede de ensino privada e pública para ceder ao medo e as ameças, em especial sobre o que tem sido alardeado sobre o dia 20 de abril. Para esta data, conforme divulgação em grupos de apps de mensagens, podem ocorrer novos ataques em instituições de ensino. Por isso pediu união de todos os entes para que se evitem novos casos para que a educação saia fortalecida.
“Passamos parte da tarde discutindo todas essas questões com o comando da Polícia Militar. Pedimos uma ação da PM para o dia 20 pois não sabemos se vai acontecer como está anunciado. Nós só não podemos duvidar. E por não duvidarmos do que pode acontecer precisamos de uma ação.  Porque as escolas ficarão de portas abertas. Não é essa turma que vai dizer se vamos estar ou não com as portas abertas dia “a” ou “z”. Agora é hora de juntarmos as mãos e trazermos para o centro da discussão todas as possibilidades para coibirmos o que está acontencendo”, declarou Bárbara.

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