Historicamente, as agências de inteligência brasileiras enfrentam uma crônica falta de recursos financeiros, recebendo apenas 0,005% do PIB, em comparação com os 0,4% investidos pelos Estados Unidos. Essa discrepância tem gerado preocupações sobre a eficiência das operações de inteligência no país. Recentemente, a pressão para que o Brasil busque alternativas para se proteger em relação a novas tarifas e sanções foi reforçada, especialmente no contexto da crise de liderança e da incerteza nas políticas externas.
O retorno ao uso de aplicativos de mensagens seguros, como o nacional Athena, é um movimento do governo para retomar a soberania em suas comunicações, algo que havia sido abandonado em prol de plataformas estrangeiras. Contudo, o fortalecimento da ABIN não é uma questão unânime. O histórico da agência está associado a práticas de espionagem e repressão política em governos anteriores, o que gera desconfiança entre a população e especialistas.
Ana Penido, especialista em segurança, ressalta que é crucial dissociar a ideia de espionagem secreta da função de inteligência estratégica que a ABIN deveria exercer. Para ela, a agência precisa ampliar seu olhar sobre o cenário internacional, criando subsídios que ajudem o governo a tomar decisões informadas. Entretanto, a politização da ABIN, especialmente durante o governo anterior, deixou um estigma que poderá dificultar a diversidade de opiniões e a confiança no seu trabalho.
Francisco Teixeira, professor da UFRJ, critica o plano de fortalecer a ABIN e sugere que a Polícia Federal, com sua estrutura ligada ao Ministério da Justiça, pode atender melhor à função de produzir inteligência eficaz. Ele defende que o foco deve ser na criação de grupos de especialistas no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para oferecer conselhos qualificados e não dependentes de um passado controverso.
Além disso, a fragilidade do orçamento destinado a agências estratégicas reflete a realidade do país, onde o investimento em segurança pública se concentra em atividades repressivas, em vez de preventivas, como a inteligência. Penido acredita que um verdadeiro fortalecimento das agências de inteligência envolve múltiplas entidades reguladas entre si, para evitar o surgimento de um “monstrengo” que atente apenas a interesses políticos específicos.
Diante desse panorama, o governo Lula se vê diante de um desafio: como modernizar e efetivar uma estrutura de inteligência que, ao mesmo tempo, recupere a confiança da população e impeça a manipulação política, garantindo ao Brasil um posicionamento estratégico na arena internacional.