Imane Khelif é intersexo, uma condição onde o indivíduo nasce com características sexuais que não se encaixam completamente nas definições tradicionais de masculino ou feminino. Esses traços podem incluir variações na anatomia sexual, órgãos reprodutivos, além de padrões hormonais e cromossômicos. Essa condição é distinta da transexualidade, onde a pessoa tem uma identidade de gênero que difere do sexo biológico atribuído ao nascimento. No caso das mulheres trans, elas se identificam e vivem como sendo do gênero feminino, embora tenham nascido biologicamente do sexo masculino.
Após a luta entre Khelif e a italiana Angela Carini, derrotada pela argelina, Carini afirmou que desistiu do embate devido a dores no nariz, negando qualquer ligação com a condição da adversária. Contrariando essa explicação, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo da luta em suas redes sociais, sem embasamento nas declarações de Carini, sugerindo que a adversária renunciou ao combate após encontrar um “homem biológico socando a cara dela muito mais forte.” Em outra postagem, o parlamentar referiu-se a Khelif como uma “pessoa trans.”
O senador Eduardo Girão (PL-RJ) também se manifestou, divulgando uma imagem de Carini chorando após a luta e classificando como um “escárnio” a presença de um “homem biológico batendo numa mulher”. Girão compartilhou ainda uma mensagem da jogadora de vôlei Tandara Caixeta, que erroneamente descreveu Khelif como uma “mulher trans” e criticou a situação, reforçando o discurso de Girão.
Sergio Moro, senador pelo Paraná, também abordou o tema ao publicar um vídeo da luta e ressaltar a necessidade de uma competição justa para mulheres, afirmando que colocar alguém que “mudou de sexo” no ringue feminino não é “fair game” (jogo justo). Posteriormente, Moro corrigiu sua declaração inicial, admitindo ter recebido informações de que Khelif não passou por uma mudança de sexo, mas manteve que a boxer argelina falhou nos critérios de elegibilidade para competir no boxe feminino da IBA, a Federação Internacional de Boxe.
A polêmica intensificou-se quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) divulgou um comunicado denunciando os ataques sofridos por Khelif e outra atleta intersexo, a taiwanesa Lin Yu-ting, que foram desclassificadas da Copa do Mundo de 2023 em Nova Delhi, organizada pela descredenciada IBA, após reprovação em testes de elegibilidade. O COI criticou os testes aplicados, classificando-os como arbitrários e pouco claros, e ressaltou que ambas as atletas sempre estiveram de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo COI e pela Unidade de Boxe de Paris 2024, competindo regularmente em competições internacionais de alto nível.
Esse caso expõe a complexidade e a sensibilidade das questões de elegibilidade no esporte, especialmente quando envolvem condições intersexuais e transexuais, e destaca a necessidade de um debate informado e uma regulamentação justa e clara para todos os atletas.