Na última sexta-feira, dia 9, o Conselho Universitário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) tomou uma decisão histórica ao revogar, por unanimidade, o título de doutor honoris causa conferido ao ex-presidente Emílio Garrastazu Médici em 1974. Este ato representa um gesto significativo no contexto da busca por justiça e memória em relação ao período da ditadura militar que assolou o Brasil entre 1964 e 1985.
A deliberação foi consequência de um trabalho minucioso realizado pela Comissão da Verdade e Memória Luís Paulo da Cruz Nunes, criada em 2024 com a finalidade de promover uma reflexão crítica sobre os eventos que ocorreram na Uerj durante a ditadura. O relatório da comissão chegou à conclusão de que Médici não cumpria os critérios estabelecidos para a concessão da honraria, que exige uma “personalidade eminente, nacional ou estrangeira, que tenha se destacado singularmente por sua contribuição à cultura, à educação ou à humanidade”.
No documento apresentado, a Comissão National da Verdade destacou 180 casos de graves violações dos direitos humanos ocorridas durante o mandato de Médici, apontando que seu governo foi marcado por práticas de repressão severa, incluindo torturas e assassinatos de opositores. Essas informações tornam-se ainda mais alarmantes quando se considera que Médici foi um dos arquitetos do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1968, que consolidou o regime autoritário e silenciou vozes críticas.
A reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, expressou sua satisfação com a decisão do conselho, destacando que a revogação do título é uma importante medida de reparação. Em suas palavras, “estamos cumprindo nosso papel de reparação, num momento em que o mundo precisa entender que a defesa incondicional da democracia deve estar presente em todos os espaços.” Essa afirmação reitera a responsabilidade das instituições educacionais em promover a reflexão sobre a história e suas implicações para o presente.
A revogação do título de Médici não apenas reafirma o compromisso da Uerj com a democracia, mas também sinaliza um esforço mais amplo de memória e justiça em um país ainda lidando com as cicatrizes deixadas por anos de repressão. Com essa decisão, a universidade se posiciona firmemente ao lado da verdade e dos direitos humanos, contribuindo para um debate necessário sobre o passado e suas repercussões na sociedade contemporânea.
