No ano do golpe militar no Brasil, em 1964, Serra era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e teve de abandonar seus estudos de Engenharia na Universidade de São Paulo (USP). Em 1965, partiu para o exílio, passando por Bolívia e França antes de chegar ao Chile. No país, concluiu seus cursos, obteve sua pós-graduação e trabalhou como pesquisador e professor.
No dia 11 de setembro de 1973, Serra foi surpreendido com sua própria prisão após o golpe que culminou na queda e morte de Allende. O fato de ser estrangeiro e trabalhar em um programa internacional lhe conferia certo grau de imunidade, mas isso não foi levado em consideração pelas autoridades. Mesmo com a intervenção da embaixada italiana, Serra foi levado para o Estádio Nacional, um dos principais centros de tortura e execução do regime.
Após meses morando na embaixada e com uma negociação intensa entre autoridades italianas e militares chilenos, Serra obteve autorização para se mudar para os Estados Unidos. O ex-senador relembra que a brutalidade do processo foi uma surpresa para todos, atingindo uma quantidade enorme de pessoas. Naquele momento, ele e outros brasileiros exilados não tinham muita participação no governo de Allende.
Serra destaca que a esquerda chilena, embora acreditasse no caminho democrático, não estava preparada para uma resistência militar e acabou surpreendida pela violência do processo. O político critica a forma como as esquerdas idealizaram um governo Allende sem a interferência de um golpe, ressaltando que a piora na situação econômica e o desempenho do governo foram fatores determinantes para a mobilização das forças pró-golpe.
A repressão severa também deixou marcas profundas na sociedade chilena e influenciou a maneira como o país lida com os crimes cometidos durante o regime. Serra acredita que, após a experiência dos excessos da extrema-direita, a principal lição que ficou para o Chile e para todo o continente foi a importância de preservar e cuidar das regras da democracia, além do respeito aos adversários políticos.
Portanto, José Serra, em sua entrevista à TV Brasil, relembrou as vivências e os impactos do Golpe no Chile, destacando a sua prisão e a repressão vivenciada durante os anos de regime ditatorial. Além disso, ressaltou a importância de aprender com essa experiência para valorizar a democracia e o respeito aos adversários políticos.