POLÍTICA – A comissão aprovou o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, gerando debate entre especialistas e organizações indígenas.

A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), em reunião realizada nesta quarta-feira (23), aprovou por 13 votos a favor e 3 contrários o projeto de lei que estabelece um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, conhecido como PL 2.903 de 2023. A proposta, que já havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados no final de maio, agora segue para a análise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e, posteriormente, para o Plenário do Senado.

O projeto de lei aprovado estabelece critérios para a definição de “terra indígena tradicionalmente ocupada”. Segundo a relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), será necessário comprovar que, na data da promulgação da Constituição Federal, a área em questão era habitada permanentemente pela comunidade indígena e utilizada para atividades produtivas. Além disso, será preciso demonstrar que essas terras eram necessárias para a reprodução física e cultural dos indígenas e a preservação dos recursos ambientais indispensáveis ao seu bem-estar.

De acordo com o projeto, as terras que não estavam ocupadas por indígenas e que não eram objeto de disputa na data do marco temporal não poderão ser demarcadas. Além disso, os ocupantes não indígenas terão direito à indenização pelas melhorias realizadas de boa-fé na área até a conclusão do processo de demarcação.

No entanto, vale ressaltar que o Supremo Tribunal Federal (STF) também está analisando o assunto para definir se a data de promulgação da Constituição pode ser considerada um marco temporal para a demarcação de terras indígenas. Esse foi o entendimento aplicado pelo tribunal no caso da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Em uma audiência pública realizada hoje para debater o tema, líderanças indígenas expressaram sua posição contrária à aprovação do marco temporal para demarcação de terras indígenas, argumentando que além de inconstitucional, essa medida representaria um rompimento do país com a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

Agora caberá à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado analisar e emitir um parecer sobre o projeto de lei. A discussão em torno do marco temporal para a demarcação de terras indígenas promete ainda gerar muitos debates e divergências entre os parlamentares antes de uma possível aprovação no Plenário do Senado.

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