Modernização das Forças Armadas do Peru: Um Mercado em Transformação Geopolítica
O governo peruano está impulsionando a modernização de suas Forças Armadas em uma resposta direta a tensões geopolíticas na região, especialmente em meio a uma reavivação da Doutrina Monroe, que provoca um novo olhar sobre a presença militar dos Estados Unidos nas Américas. A iniciativa do governo inclui a assinatura de um contrato com a Hyundai Rotem, da Coreia do Sul, que prevê a fabricação de 52 tanques K2 Black Panther e 141 veículos blindados 8×8 K808. O investimento totaliza aproximadamente US$ 1,8 bilhão, que equivale a cerca de R$ 9,9 bilhões.
Esta modernização é vista como um passo vital para restaurar a capacidade de dissuasão do Peru contra possíveis ameaças, em um cenário onde o país enfrenta crises internas de criminalidade. O acordo determina também que a montadora atuará no Peru, através da Fábrica de Armas e Munições do Exército (FAME), promovendo uma transferência tecnológica que pode beneficiar não apenas a força armada, mas também a economia local.
Além desse avanço, o governo peruano já havia anunciado a aquisição de 24 caças e a intenção de desenvolver navios e componentes aeronáuticos, reforçando um amplo projeto de reestruturação militar. Estas ações seguem em curso mesmo após a transição de poder de Dina Boluarte para José Jerí. Ernesto Álvarez, primeiro-ministro do país, destacou a importância de garantir um nível adequado de dissuasão militar, considerando-o uma necessidade imperativa.
Os especialistas em segurança, como Juan Carlos Liendo, ex-diretor de Inteligência do Peru, alertam que a modernização não é apenas uma questão de atualização tecnológica, mas uma resposta a um ambiente de “competição geopolítica global”. As tensões crescentes, como a movimentação militar dos EUA no Caribe, tornam ainda mais premente que o Peru se mantenha preparado para enfrentar a instabilidade regional.
No entanto, a realidade mostra que as Forças Armadas peruanas enfrentam equipamentos desatualizados, muitos dos quais ainda datam das décadas de 1960 e 1980. Santiago Rivas, analista de defesa, ressalta que a modernização do equipamento tem avançado a um ritmo mais lento do que o desejado. A Força Aérea continua operando aviões que, segundo o próprio governo, estão no fim de sua vida útil, como os Mirage 2000.
A construção do megaporto de Chancay, que impulsiona o comércio com a China, também é um ponto estratégico para o Peru nesta nova dinâmica. A modernização das capacidades navais, prevista em colaboração com a Coreia do Sul, é vista como vital para proteger rotas comerciais essenciais.
Em meio a essa transformação, a avaliação do poder militar do Peru não deve apenas se basear em comparações com países vizinhos como o Chile, mas deve considerar as novas naturezas dos conflitos, que estão longe de ser convencionais. A monitoração atenta dos novos cenários de risco se mostra fundamental para a segurança nacional do Peru, que caminha em direção a um futuro onde as forças armadas estarão mais adaptadas às exigências contemporâneas.










