Operação Spare mira empresário e fintech acusados de lavagem de dinheiro ligado ao PCC, movimentando bilhões em combustíveis e transações de crime organizado.

Operação Spare: MP e Receita Federal Desmantelam Rede de Lavagem de Dinheiro Relacionada ao PCC

Na última quinta-feira, 25 de setembro, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) e a Receita Federal realizaram uma operação de grande magnitude, batizada de Operação Spare. Esse movimento é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que revelou a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema financeiro da Faria Lima, uma das regiões mais emblemáticas do país em termos de negócios. Os alvos centrais dessa nova investigação foram o empresário Flávio Silvério Siqueira, popularmente conhecido como Flavinho, e a fintech BK Bank, que já havia sido mencionada anteriormente como um ponto de apoio financeiro para a lavagem de dinheiro oriundo de atividades criminosas.

Durante a operação, 25 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em diversas localidades do estado de São Paulo, incluindo a capital, Santo André, Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. As investigações apontam que Flavinho dirigia um esquema fraudulento de adulteração e venda de combustíveis, utilizando este negócio como um disfarce para lavar dinheiro ilícito. A Receita Federal revelou que 267 postos de combustíveis ainda operam na clandestinidade, movimentando impressionantes R$ 4,5 bilhões entre 2020 e 2024, mas contribuindo com apenas R$ 4,5 milhões em impostos federais, representando menos de 0,1% de sua receita anual.

Além dos postos de gasolina, a rede criminosa se estende a imobiliárias, motéis e franquias, todos utilizados para ocultar patrimônio e legitimar valores gerados por tráfico de drogas, contrabando e jogos de azar. A fintech BK Bank voltou a ser o foco das investigações, sendo considerada um “braço financeiro” do PCC. A instituição operava “contas-bolsão”, que agregavam os recursos de vários clientes em uma única conta, dificultando assim o rastreamento das transações e burlando os dispositivos de prevenção à lavagem de dinheiro. Na filial da Fintech em Ribeirão Preto, foram identificados dados alarmantes, somando R$ 17,7 bilhões em movimentações financeiras atípicas ligadas a usinas sucroalcooleiras e distribuidoras de combustíveis.

O envolvimento da BK Bank com o crime organizado se intensifica com informações de que a fintech foi usada para transferir R$ 100 milhões da Usina Itajobi para o fundo Radford, ligado ao Banco Genial, e outros R$ 250 milhões do Fundo Mabruk II para a aquisição de usinas. O Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) já suspendeu uma licitação de R$ 102,4 milhões vencida pela fintech, que visava gerenciar o programa social Comida Boa, enquanto a Prefeitura de Birigui rescindiu um contrato de vale-alimentação com o banco devido a reclamações sobre falhas na prestação de serviço.

As investigações também revelaram conexões internacionais, ligando a BK Bank a Mohamad Hussein Mourad e seu primo Himad Abdallah Mourad, que recebeu mais de R$ 20,8 milhões pela fintech em 2023. As empresas vinculadas a este grupo registraram, em total, R$ 18,5 bilhões em créditos e débitos.

A origem do caso remonta a 2020, quando foram descobertas máquinas de cartão em casas de jogos clandestinos no litoral paulista. O rastreamento dessas operações culminou na identificação da BK Bank e dos postos de combustíveis operados por Flavinho. Curiosamente, embora a operação devesse ter ocorrido em conjunto com a Carbono Oculto, sua autorização só foi concedida após um recurso ao Tribunal de Justiça. Assim, a investigação que se desenrola revela a complexidade e a magnitude de uma rede de lavagem de dinheiro que continua a desafiar as autoridades.

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