De acordo com estudiosos da área de Relações Internacionais, como Pablo Victor Fontes Santos, essa tríade simplista em que “todo árabe é um islâmico e todo islâmico é um terrorista” reflete uma visão distorcida e altamente polarizada. Essa concepção não é nova; ela remonta a práticas coloniais, onde o Ocidente buscava criar e manter uma imagem negativa dos povos muçulmanos, utilizando-se de uma série de intervenções militares e políticas ao longo dos séculos. Mansur Peixoto, fundador do canal História Islâmica, destaca que a representação do muçulmano como o inimigo é uma estratégia contínua que se estende até o presente, manifestando-se em filmes, noticiários e até no humor popular.
Especialistas confirmam que o terrorismo não encontra apoio em fundamentos islâmicos. O Alcorão e os ensinamentos do Islã não justificam práticas de violência; pelo contrário, o extremismo é visto como uma distorção da fé, um fenômeno social complexo e não um reflexo da religião em si. O terrorismo, segundo esses analistas, é uma expressão de violência ilegítima que emerge em contextos de opressão e intervenção estrangeira, especialmente em países muçulmanos.
Em cenários de conflito, a narrativa ocidental tende a recobrir ações militares sob a luz de “intervenções humanitárias” ou “guerras de contrainsurgência”, enquanto atos similares perpetrados por grupos não ocidentais são rotulados diretamente como terrorismo. Essa inconsciência crítica leva a um apagamento de sofrimentos de milhões, ao passo que ações violentas, quando justificadas por líderes estadunidenses, são frequentemente recontextualizadas em termos de defesa da liberdade e democracia.
A luta contra a representação estigmatizada dos muçulmanos requer uma reflexão profunda sobre como a linguagem e os conceitos nascidas em contextos geopolíticos moldam a opinião pública. Assim, entender o terrorismo como uma questão multifacetada, que envolve tanto ações de resistência contra opressões quanto manipulações políticas, é um passo fundamental para descontruir a imagem do “outro” perpetuada na mídia e na cultura popular.