A professora Fernanda Gonçalves Nancy, especialista em Relações Internacionais da UERJ, destacou a drástica mudança na política econômica dos Estados Unidos, que impactou as relações globais e resultou em uma crise no multilateralismo. Tradicionalmente, os EUA foram defensores desse modelo de governança, criando normas que permitiram um equilíbrio de poder entre nações. Entretanto, com a atual estratégia de Washington, observa-se um enfraquecimento da estrutura multilateral que por muitas décadas prevaleceu, especialmente com a falta de apoio à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Nancy enfatiza que o país tem adotado atitudes unilaterais que minam as regras estabelecidas, permitindo que outras potências, como a China, disputem espaços na liderança global. A professora pontua que o modelo de multilateralismo que conhecemos “não existe mais”, apontando a necessidade de uma reestruturação com novas normas e atores, sob a liderança do Sul Global. No entanto, para que essa nova ordem se consolide, é crucial que haja coesão entre os países dessa região, que ainda apresentam diversidades significativas em termos de poder e influência.
O analista Valter Peixoto Neto, especialista em relações internacionais e apresentador do podcast MenteMundo, discutiu as recentes tensões entre Camboja e Tailândia. O conflito, que começou em julho de 2025, não se concentra apenas em disputas territoriais, mas também nas ricas heranças culturais das nações envolvidas. A queda da primeira-ministra tailandesa, Paetogntarn Shinawatra, foi um ponto de inflexão que exemplificou como crises internas podem se agravar devido à falta de intervenções eficazes de organismos internacionais, como a ONU.
Peixoto observa que a ASEAN desempenha um papel ambíguo nesse contexto, ao mesmo tempo que busca manter a unidade entre os seus membros e evitar futuras escaladas de conflito, agindo como um canal diplomático. A necessidade de se legitimar politicamente tem levado países como Tailândia e Camboja a buscar um “inimigo comum”, destacando como a geopolítica e a identidade nacional estão entrelaçadas em tempos de crise.
Esses relatos demonstram um ponto importante: a configuração do poder global está mudando, com o Sul Global ganhando destaque em um novo panorama multilateral, desafiando tradições estabelecidas e exigindo uma adaptação por parte das potências tradicionais.







