Nova Série ‘Cidade de Deus: A Luta Não Para’ Expande Narrativas e Foca em Protagonismo Feminino e Social

 

As cenas iniciais da nova série “Cidade de Deus: a luta não para” oferecem uma sensação familiar. Com elementos icônicos como o samba, uma galinha e uma faca sendo amolada, a produção remete imediatamente ao filme de Fernando Meirelles, lançado em 2002. Nesse contexto, a voz de Buscapé, personagem de Alexandre Rodrigues agora chamado Wilson, ressurge com uma narração que mistura a voz mansa e a contundência do conteúdo. “Eu saí da favela, mas a favela não saiu de mim”, diz ele. A rotina de Buscapé é interrompida pelos sons de fuzil e imagens de caveirões, pintando um retrato do Rio de Janeiro dos últimos 20 anos.

Buscapé, agora um fotojornalista experiente, continua a documentar os conflitos locais e os abusos policiais na Cidade de Deus. A nova produção da HBO, com lançamento agendado para o dia 25, promete reavivar essa narrativa em seis episódios semanais, transitando entre o passado e o presente de maneira inovadora. A série é dirigida por Aly Muritiba, conhecido por “Cangaço Novo”. Ele pretende apresentar uma narrativa não apenas focada nas carências da comunidade, mas também nos seus triunfos: uma associação de moradores forte, um ambiente cultural vibrante e laços afetivos robustos.

“O que me fez me apaixonar pela história de ‘a luta não para’ é poder contar um ponto de vista que demonstra a minha vivência”, afirma Alexandre Rodrigues. Comparado ao filme, que teve quatro indicações ao Oscar, a série prioriza explorar aspectos mais psicológicos dos personagens, reduzindo o foco nas cenas gráficas de violência. Segundo Muritiba, a atenção está no impacto da violência na vida cotidiana dos moradores, como nas deslocações para o trabalho ou no luto das famílias, ao invés de apenas mostrar a brutalidade em si.

Os personagens do longa original retornam, trazendo novos desenvolvimentos. Roberta Rodrigues ressurge como Berenice, enquanto Edson Oliveira retorna como Barbantinho, agora presidente da associação de moradores e aspirante a vereador. Thiago Martins revive seu papel de “Lampião”, agora Bradock, em uma trama que envolve a disputa pelo controle do tráfico na região. A complexidade dos personagens é um ponto alto, especialmente com a inclusão de Jerusa, interpretada por Andreia Horta, uma advogada ambiciosa capaz de ações extremas.

A presença feminina na série é marcante. Além de Jerusa e Berenice, destacam-se personagens como Lígia, uma jornalista investigativa, e Cinthia, papel de Sabrina Rosa, que evolui de uma personagem secundária do filme a uma líder comunitária. “A maioria das comunidades são matriarcais”, diz Rosa, destacando a importância dessas figuras que oferecem esperança e oportunidades para as próximas gerações.

A expectativa da HBO é que “Cidade de Deus: a luta não para” alcance o mesmo impacto internacional que o filme de 2002. “A qualidade da produção é irretocável, e há potencial em atingir um público global,” afirma Silvia Fu, diretora senior da Warner Bros. Discovery. Com um investimento robusto em marketing, a série estreia com a ambição de repetir o sucesso e a relevância cultural que “Cidade de Deus” conquistou há duas décadas.

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