Pouco mais de uma semana após a declaração do cessar-fogo, Israel reiniciou os ataques aéreos em Gaza, resultando na morte de 80 pessoas. Essa nova onda de bombardeios ilumina como o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está tentando equilibrar a pressão internacional e o desejo de sua base radical. Analistas sugerem que Netanyahu, sob a sombra de denúncias de corrupção e com a necessidade de manter seu governo, está respondendo às demandas da ala extremista de sua coalização, que se opõe categoricamente aos termos do acordo.
Karina Calandrin, professora de relações internacionais, argumenta que os ataques podem ser vistos como uma estratégia para apaziguar essa base dura, que não confia no cessar-fogo. Ela destaca que, apesar do reconhecimento global da necessidade de paz, a pressão interna para que Netanyahu aja com firmeza contra o Hamas impede avanços significativos. No entanto, pesquisas revelam que uma parcela considerável da população israelense, incluindo a maioria dos eleitores de Netanyahu, apoia o acordo, refletindo um dilema que permeia a política israelense.
A situação se complica ainda mais com a iminente posse de Donald Trump como presidente dos EUA, cujas declarações em apoio ao cessar-fogo aumentam a pressão sobre Netanyahu para a implementação do acordo antes que a nova administração entre em cena. Durante a conversa em um podcast, Calandrin frisou que a relação entre Netanyahu e Trump poderia influenciar diretamente a situação, uma vez que o ex-presidente possui uma conexão mais próxima com o premier israelense do que Joe Biden.
Por outro lado, Marcos Feres, secretário de comunicação da Federação Árabe Palestina do Brasil, expressou ceticismo quanto à eficácia do cessar-fogo, afirmando que os ataques continuam sendo parte de uma estratégia de longa data de negação de direitos ao povo palestino. Para ele, mesmo que o acordo entre em vigor, a possibilidade de violação é alta, uma vez que a estrutura do pacto não aborda as raízes profundas do conflito.
Ao se observar a dinâmica atual, fica evidente que as negociações entre Israel e Hamas estão longe de resultar em uma paz duradoura. As tensões internas em Israel e a complexa relação com a liderança dos EUA adicionam camadas de dificuldade a um cenário já frágil. Assim, a expectativa é de que qualquer sinal de progresso seja continuamente testado por ações no campo, refletindo a realidade impiedosa dos conflitos prolongados na região.