Sargento Acusado de Estupro com Histórico de Inocência e Recidência é Condenado a 20 Anos
O caso de Franklin Veras de Araujo Junior, um sargento do Exército Brasileiro, é marcado por uma alarmante reincidência criminosa que culminou em sua expulsão das Forças Armadas e uma condenação exemplar pela Justiça Civil. Em 2003, o militar foi absolvido pela Justiça Militar, em Recife, após um garoto de 12 anos relatar abusos que teriam ocorrido no Colégio Militar local. Apesar das acusações detalhadas do menino e de depoimentos que vinculavam Franklin a práticas deploráveis, como exibir material pornográfico e exigir comportamentos inadequados dos alunos, a falta de "provas materiais" resultou na sua absolvição.
A decisão judicial da época acabou por permitir que Franklin continuasse suas atividades militares e sociais sem impedimentos, mudando-se posteriormente para Porto Velho. Porém, em 2011, ele voltou a ser acusado de abuso sexual, desta vez envolvendo pelo menos cinco crianças e adolescentes ligados à Igreja Adventista Central da cidade. Diferentemente da primeira ocorrência, a Justiça Civil considerou Franklin culpado, sentenciando-o a 20 anos de prisão. Após o trânsito em julgado da sentença, ele foi expulso das Forças Armadas, um fato acompanhado de benefícios controversos.
De acordo com regulamentações que garantem pensões vitalícias a parentes de militares expulsos, a esposa de Franklin, Adriana Gomes Barbosa Veras, passou a receber uma pensão mensal de R$ 12.400 no mesmo ano em que ele começou a cumprir pena em regime aberto. Embora o benefício seja, em teoria, destinado aos dependentes de militares, o fato do casal continuar casado implica, indiretamente, no usufruto dessa renda pelo próprio condenado.
A trajetória de Franklin virou uma página trágica na vida de Rafael Henriques, a primeira vítima que o denunciou publicamente. Rafael relata que a sua vida foi profundamente impactada pelas experiências traumáticas e pela falta de apoio e justiça após a sua denúncia em 2003. A Justiça Militar, que deveria tê-lo protegido, o tratou com desconfiança, refletindo preconceitos que questionaram sua sexualidade em vez de condenar as ações do abusador.
Em 2018, Franklin e sua esposa se mudaram para São Luís, onde investiram na abertura de microempresas, financiadas, em parte, pela pensão que Adriana continua a receber. O UOL, buscando esclarecer os fatos, tentou contato com o casal, mas não obteve resposta.
Para Rafael e sua mãe, Mirtes, a condenação de 2011 trouxe um misto de alívio e frustração. Embora finalmente reconhecido como culpado, o fato de Franklin ainda estar, de maneira indireta, se beneficiando de dinheiro público gera uma indignação contínua. Rafael acredita que, se a Justiça tivesse sido efetivamente realizada em 2003, muitas outras vítimas poderiam ter sido poupadas do sofrimento.
Este caso traz à tona reflexões urgentes sobre as práticas judiciais militares, a proteção real às vítimas e a necessidade de reformulação em benefícios concedidos a militares condenados. A história de Franklin é um emblema de falhas institucionais e sociais que necessitam de um olhar crítico e reformas efetivas.









