Uma descoberta surpreendente no México lançou luz sobre a vida e dieta de um homem que viveu há cerca de mil anos. Os restos mortais, encontrados em uma caverna na região que marca a transição entre Mesoamérica e Aridoamérica, estavam incrivelmente preservados, resultado das condições secas e estáveis do local. O corpo, identificado como o “homem de Zimapán”, foi mumificado naturalmente e envolto em um sofisticado revestimento funerário, que sugere que ele poderia ter ocupado uma posição elevada em sua comunidade, possivelmente vinculado à cultura Otopame, conhecida por seus grupos de caçadores-coletores.
Pesquisadores realizaram análises detalhadas do tecido intestinal e das fezes preservadas do indivíduo, utilizando técnicas de sequenciamento do gene 16S rRNA. Este método permitiu identificar fragmentos de DNA bacteriano que revelaram a presença de micróbios intestinais que eram comuns na época e que ainda são relevantes nos dias de hoje, como as famílias Peptostreptococcaceae e Clostridiaceae. A presença de Clostridiaceae, em particular, mostra semelhanças com bactérias encontradas em outras múmias de regiões andinas, sugerindo conexões mais amplas entre diferentes culturas antigas.
Uma descoberta intrigante foi a identificação de Romboutsia hominis, uma espécie anteriormente desconhecida em microbiomas antigos, levando os pesquisadores a considerar que algumas dessas bactérias intestinais podem ter persistido na linhagem humana ao longo dos séculos. Notavelmente, os perfis bacterianos analisados mostraram diferenças claras em relação ao solo e material orgânico da região, confirmando que as bactérias observadas eram nativas do corpo e não contaminações externas.
A investigação também destacou como o estilo de vida e a dieta dos primeiros mesoamericanos moldaram seu microbioma intestinal. Micróbios associados à digestão de fibras vegetais e insetos indicam uma dieta rica em plantas como agave e insetos, características compatíveis com um modo de vida seminômade. Esta pesquisa não só fornece um vislumbre sobre as práticas alimentares ancestrais, mas também reafirma a importância de hábitos e ambientes nos perfis bacterianos dos indivíduos.
O pacote funerário, meticulosamente preservado, não apenas reflete o cuidado ritual da época, mas também enfatiza os esforços dos arqueólogos para restaurar e compartilhar essa conexão antiga com o público contemporâneo. Essas descobertas não só enriquecem nosso entendimento sobre a cultura e os costumes dos povos pré-hispânicos, mas também abrem caminho para novas pesquisas sobre a saúde e alimentação ao longo da história.