A semana que Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), passou em Alagoas pode ser a chave para compreender os eventos que culminaram em sua morte no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, no último dia 8. Gritzbach, que estava sob constante ameaça de morte pela facção e envolvido em disputas internas do grupo, foi assassinado com 10 tiros ao desembarcar no terminal paulista. Os autores do crime, dois homens encapuzados, fugiram em um Gol preto e permanecem foragidos.
De acordo com o depoimento de um de seus seguranças à polícia, um episódio em Maceió chamou atenção: funcionários de Gritzbach buscaram uma sacola pequena com um homem identificado apenas como “Alan”. Esse homem, descrito como moreno claro, de 1,78 m, com cerca de 35 a 38 anos, vestia uma camisa do Barcelona e carregava uma sacola preta. Dentro da sacola, a polícia encontrou pedras preciosas, joias variadas, um relógio Rolex e certificados de autenticidade de marcas renomadas como Vivara e Cartier. Segundo as investigações, as joias podem ter sido parte de um pagamento recebido por Gritzbach.
Além disso, o delator e sua namorada, Maria Helena Paiva Antunes, visitaram imóveis em São Miguel dos Milagres, sob a justificativa de procurar um local para passar o réveillon com a família. No ataque em Guarulhos, outras três pessoas foram feridas, além do delator. Celso Araújo Sampaio de Novais, motorista por aplicativo de 41 anos, foi baleado nas costas, levado para a UTI e não resistiu. Funcionários do aeroporto também ficaram feridos: Samara Lima de Oliveira, 28, foi atingida superficialmente no abdômen e já recebeu alta; enquanto Willian Sousa Santos, 39, teve ferimentos na mão direita e no ombro, permanecendo em observação no hospital.
Segundo a polícia, nenhum dos três tinha ligação com Gritzbach. Depoimentos de Maria Helena e do motorista Danilo Lima Silva trazem versões diferentes sobre os eventos que precederam a morte. Maria Helena afirmou que Gritzbach foi reconhecido por um homem que o ameaçava em São Miguel dos Milagres. Já Danilo relatou que o empresário foi identificado no Aeroporto Zumbi dos Palmares, em Alagoas, por alguém que lhe devia R$ 6 milhões — o mesmo que teria feito o pagamento com joias.
A polícia também busca “Alan”, o entregador da sacola em Maceió, na tentativa de localizar o devedor de Gritzbach. Em paralelo, investigadores em São Paulo suspeitam que o devedor possa ser um operador de criptomoedas com dívida de R$ 70 milhões com Anselmo Bechelli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”.
Os seguranças de Gritzbach, todos policiais militares, são investigados por possíveis falhas na escolta durante sua chegada a Guarulhos. O carro originalmente designado para a proteção, um Volkswagen Amarok, apresentou problemas mecânicos, e os seguranças chegaram ao terminal em uma Trailblazer ocupada por familiares do empresário. As autoridades também avaliam se as joias entregues em Maceió estavam equipadas com GPS, o que pode ter permitido aos assassinos rastrear a localização do empresário após seu desembarque.
Além da suspeita de envolvimento do PCC no assassinato, a polícia não descarta que Gritzbach tenha sido vítima de queima de arquivo, devido ao acordo de delação premiada que ele havia assinado e aos inimigos que acumulou entre agentes públicos, aos quais confessou ter pago propinas milionárias. As investigações seguem em Alagoas e São Paulo, buscando desvendar as conexões entre os eventos que antecederam a emboscada e os interesses por trás da execução.