Durante uma recente entrevista ao podcast Mundioka, a professora de relações internacionais Karina Calandrin, do Ibmec São Paulo, sublinhou que o crescimento do número de sinagogas no Nordeste não deve ser interpretado como uma estratégia de soft power por parte de Israel. Em vez disso, ela descreveu esses esforços como parte de um programa de resgate cultural. Calandrin enfatizou que os rabinos estão focados em integrar judeus que, por diversas razões, não estiveram ligados a comunidades judaicas formais, e que esta iniciativa visa apenas fortalecer a identidade judaica, não uma ligação política com Israel.
Entretanto, ela também alertou para a crescente confusão entre a população judaica e as ações do Estado de Israel, especialmente no contexto atual de tensões e conflitos na Faixa de Gaza. Muitos judeus brasileiros e de outras partes do mundo se sentem injustamente culpabilizados por questões relacionadas ao Estado israelense, o que, segundo ela, é um fenômeno preocupante. Karina destacou a importância de o povo brasileiro compreender que os judeus são parte integral da sociedade, detentores de culturas e tradições próprias.
O cientista político Ali Ramos, que também participou do podcast, complementou a análise ressaltando que a expansão do judaísmo, especialmente em regiões periféricas, reflete uma tentativa de reverter a perda de legitimidade enfrentada por Israel nas esferas internacionais. Ele observou que a situação demográfica de Israel é preocupante e que o país precisa buscar novas formas de revitalização no exterior, já que as alternativas institucionais têm se mostrado insuficientes.
Ramos ainda afirmou que a atuação do governo de Israel na Faixa de Gaza contradiz interesses estratégicos, dado que muitos israelenses almejam uma vida tranquila, livres de conflitos. Ele acredita que o judaísmo na América Latina pode e deve adotar uma postura crítica em relação às ações do Estado israelense, formando uma solidariedade com o povo palestino e abordando as questões com uma perspectiva mais humanitária.
As análises apresentadas na entrevista ressaltam um fenômeno complexo: ao mesmo tempo em que as missões rabinas tentam reforçar vínculos culturais, também enfrentam a difícil tarefa de dissociar a identidade judaica das ações políticas do Estado de Israel, promovendo um diálogo mais profundo e necessário sobre essas interações.