Especialistas em política internacional analisam as implicações dessa conexão entre os dois líderes. Para Bruno Lima, cientista político, a expectativa de Milei de obter vantagens financeiras apenas pelo alinhamento ideológico com o governo norte-americano é uma “ilusão”. Lima argumenta que a estrutura econômica da Argentina já enfrentava dificuldades antes do escândalo das criptomoedas, com um valor do dólar artificial que comprometia a confiança de investidores internacionais. Ele observa que a proposta de Milei de “esticar” essa situação até as próximas eleições legislativas revelava uma estratégia arriscada.
Eduardo Galvão, professor do IBMEC, complementa essa análise, apontando que a valorização de títulos da dívida e a redução do risco país, embora indicativos positivos, ainda não foram suficientes para atrair investimentos significativos para o país. Ele ressalta que a população argentina continua a sofrer com a alta de preços e a falta de reajustes salariais.
Outro ponto crítico mencionado é a decisão de Milei de abrir o capital do Banco Nación por decreto, uma manobra considerada por Lima como potencialmente problemática em termos de legitimidade do governo. Além disso, a postura protecionista de Trump pode complicar ainda mais a relação, com possíveis tarifas sendo impostas sobre produtos argentinos, o que geraria um desgaste econômico.
Neste complexo panorama, a dependência crescente da Argentina em relação aos EUA, em detrimento de parcerias com outras potências, como a China, é vista com preocupação por especialistas, que alertam sobre os riscos de troca de uma dependência por outra. A conjuntura atual revela os desafios que Milei enfrentará para consolidar seu governo e atender às necessidades econômicas da Argentina em um contexto internacional cada vez mais rival.