Milei busca apoio no Paraguai após falta de resposta dos EUA e revela desconforto na política externa argentina em reunião com Santiago Peña.

Na recente visita à Assunção, o presidente argentino Javier Milei se reuniu com seu colega paraguaio, Santiago Peña, em um encontro que foi interpretado como um reflexo da busca de Milei por apoio regional. Este movimento surge em meio à crescente indiferença dos Estados Unidos em relação à sua administração, levantando questões sobre a eficácia da política externa argentina.

Embora o encontro não tenha levado a avanços significativos em acordos bilaterais, a reunião marcou um momento inédito de afinidade ideológica entre os dois líderes, ambos com visões libertárias sobre a economia e uma aspiração de cooperação que promete reconfigurar as alianças na América do Sul. As pautas discutidas giraram principalmente em torno do Mercosul, especialmente à luz da próxima cúpula presidencial a ser realizada em Buenos Aires, que pode definir novos rumos para o bloco.

No entanto, especialistas avaliadores da cena política, como Emanuel Porcelli, apontaram que a visita de Milei foi marcada pela falta de uma agenda clara, dois fatores que refletem uma improvisação nas estratégias diplomáticas de seu governo. De acordo com analistas, esta reunião pode ser vista como um esforço do governo argentino para abordar as tensões que já existem entre Paraguai e Brasil, especialmente em relação ao recente cenário de espionagem de autoridades paraguaias por serviços brasileiros.

A relação de Milei com os EUA, que deveria lhe proporcionar um sólido suporte em questões comerciais e diplomáticas, não se concretizou conforme esperava. Isso levou a um reexame da posição da Argentina no Mercosul, o qual Milei havia ameaçado deixar se as condições fossem desfavoráveis. A falta de avanço nas negociações com Washington forçou Milei a considerar o bloco como um aliado estratégico necessário para contrabalançar o poder do Brasil e do Uruguai na região.

Analistas como Cristian Riom destacam que a parceria com o Paraguai pode ser vista como uma tentativa de Milei de ampliar suas opções de aliança no cenário econômico regional em um momento em que a Argentina se encontra isolada nas discussões sobre acordos comerciais. O contínuo desinteresse dos EUA em se alinhar mais de perto com a administração de Milei configura um pano de fundo complexo onde o pragmatismo se torna essencial para a política externa argentina.

A ausência de uma postura assertiva da Argentina nas questões regionais, exemplificada pela insignificância de sua participação na escolha do novo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), evidencia um processo de perda de influência que a administração atual ainda precisa enfrentar. A diplomacia de Milei, em busca de uma maior relevância no Mercosul, é, portanto, uma resposta à necessidade de reequilibrar as relações com seus vizinhos e, ao mesmo tempo, reafirmar sua posição no cenário global, enquanto se adapta às realidades impostas pela falta de apoio externo.

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